(I)MOBILIDADE POPULACIONAL E RESILIÊNCIA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO
Imobilidade; Resiliência; Políticas Públicas; Cisternas; Semiárido
Embora o Nordeste seja uma região em que ainda há significativa perda de população, nela também se registra o maior volume de nunca migrantes, especialmente nos municípios do interior. Segundo o Censo Demográfico de 2010, cerca de 10 milhões de pessoas residentes no Semiárido Setentrional, o que equivale a 70,3% da população total, nunca haviam empreendido a migração da ou na região. Isso mostra que a imobilidade no Semiárido é maior do que se imagina, o que pode evidenciar que a capacidade de migrar não está disponível para todos, por exigir um nível mínimo de capital humano, social e físico, como também pode refletir uma estrutura de resiliência desenvolvida no local de nascimento. A primeira explicação tende para a perspectiva de vulnerabilidade de uma população que não migra mesmo estando exposta a riscos, configurando uma “população presa”. Por outro lado, na perspectiva de que a migração não é a única opção de adaptação, elementos como complementação da renda da família e segurança hídrica, seja para o consumo ou para a produção, podem desempenhar, conjuntamente, o papel de tornar a população resiliente, principalmente a que reside no campo, onde as condições socioeconômicas, não só da perspectiva ambiental, são mais áridas. É primordial para a resiliência o papel que as instituições desempenham. A gestão adaptativa por parte destas deve considerar tanto o enfoque social quanto ecológico, aspectos que, no contexto do Semiárido, são identificados no Programa Cisternas, referência mundial na busca por aumentar a segurança hídrica e alimentar, além do baixo impacto ao ecossistema. Diante disso, indaga-se como a resiliência contribui para a imobilidade no Semiárido Setentrional. No contexto dessa pergunta cabe ainda acrescentar: a imobilidade populacional está relacionada ao acesso as cisternas? Questões individuais, familiares e ligadas ao ciclo de vida estão relacionadas a imobilidade do sertanejo? Qual o impacto do Programa Cisternas na resiliência sertaneja? Além da bibliografia pesquisada, para ajudar a responder tais questões, serão adotadas como principais fontes de informação tanto bases de dados de caráter transversal, como os Censos Demográficos (2000 e 2010) e os Censos Agropecuários (2006 e 2017), quanto longitudinal, como a Coorte dos 100 Milhões de Brasileiros do CIDACS (Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde) da Fiocruz Bahia. As referidas perguntas nortearão os ensaios que vão compor esta tese e darão sustentação a visão de que o sertão não é só vulnerável, mas, sobretudo, resiliente. Dada a sua vivência e experiência com a lida no sertão, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”, embora ainda seja evidenciada algumas desvantagens sociais, o que torna as políticas sociais imprescindíveis para potencializar a sua força.