SISTEMAS DE DESSALINIZAÇÃO DO SEMIÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE: PERCEPÇÃO SOCIAL E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA ATIVIDADES PRODUTIVAS AGROPECUÁRIAS
Dessedentação animal; Irrigação; Concentrado salobro; Água subterrânea; Comunidades rurais
O Rio Grande do Norte apresenta a maior parte do seu território inserido dentro do polígono das secas, e com mais da metade da população desta região, habitando a zona rural. Nessa região, equipamentos de dessalinização foram instalados, a fim de melhorar a qualidade de água para consumo humano, no entanto, gerando uma grande quantidade de rejeito salobro. Deste modo, o presente trabalho teve como objetivo, averiguar a qualidade da água subterrânea e do subproduto da dessalinização, para uso em atividades produtivas agropecuárias, como de avaliar a percepção comunitária, a respeito da tecnologia implantada. A base de dados empregada, cedida em sua maior parte pelo Programa Água Doce (PAD), constituiu-se de laudos da qualidade da água e entrevistas semiestruturadas, referentes a 33 municípios do RN. A avaliação da água subterrânea para fins de irrigação, abordada no primeiro capítulo, demostrou que os parâmetros pH, condutividade, sólidos totais dissolvidos (STD), cloreto, manganês, urânio e zinco apresentaram concentrações acima dos limites recomendados para culturas vegetais. Quase a metade dos poços apresentou águas com risco alto (43%) de salinização dos solos, porém, baixo de sodificação (45%). Todas as fontes hídricas analisadas mostraram-se inadequadas ao rendimento de plantas mais sensíveis, e com níveis de sódio (> 115 mg/L) capaz de ocasioná-las algum grau de lesão foliar. Para a produção de animais, STD, magnésio, sulfato e manganês apresentaram concentrações acima dos valores máximos recomendados. Através do segundo capítulo, a composição físico-química da água subterrânea e do concentrado foi empregada para a determinação de índices de qualidade, visando os usos de irrigação e dessedentação animal. Um elevado percentual da água dos poços (51%) e do concentrado (65%) foram classificados com qualidade ruim e péssima para o cultivo de plantas. Inversamente, a maior parte das águas subterrâneas (87%) e do rejeito salobro (71%), integraram as classes de melhor qualidade (excelente e boa) para a produção de animais. O diagnóstico dos sistemas de dessalinização, realizado no terceiro capítulo, demostrou que em 42 localidades, 53% das famílias eram usuárias dos sistemas de dessalinização. Gastos mensais fixos como: tarifa de energia elétrica (62%), remuneração de operadores (90%) e fundo de reserva (100%) foram majoritariamente liquidados pela própria comunidade. Após a implantação dos dessalinizadores, o modelo de gestão implementado e performance de serviços foram avaliados, obtendo-se mais de 90% de respostas satisfatórias (excelente e bom) para cada aspecto e/ou variável apontada. Quanto ao estudo de percepção da qualidade das fontes de água consumida (cisternas e dessalinizada), realizado em 4 localidades, 46% dos entrevistados de relataram perceber alterações nas propriedades organolépticas do recurso, principalmente relacionadas ao sabor, ocasionado pelo cloro e ou sais. Cerca da metade do público abordado afirmou ter recebido informações sobre boas práticas higiênicos-sanitárias. Enfermidades, como diarreia e verminose, foram os exemplos mais citados. Mecanismos comunitários de gestão se mostraram como um importante instrumento na manutenção dos dessalinizadores. No entanto, detectou-se a necessidade de uma maior sensibilização da população, através de abordagens educativas e de comunicação social, tendo em vista ampliar a percepção dos riscos associados a água de consumo humano.