O Cacique Geral dos Povos Indígenas do RN, Luiz Katu, demonstrou como a mídia pode ser utilizada para a defesa dos povos indígenas e como ela também pode serinstrumentalizada para o apagamento da cultura indígena.
Nesta quarta-feira, 1, dia histórico em que o Superior Tribunal Federal (STF) determinou a retomada do processo de demarcação das terras indígenas no Rio Grande do Norte, o Cacique Geral dos Povos Indígenas do Estado, Luiz Katu, ministrou a Aula Inaugural do semestre 2025.2 do Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia (PPgEM) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Durante quase duas horas, o Cacique, que é também professor e Doutor Honoris Causa pelo IFRN e pela UERN, debateu sobre o papel das mídias como estratégia de defesa da junto aos povos indígenas. Katu também exemplificou com a mídia e o discurso das mídias podem atuar de modo a promover o apagamento da cultura indígena e o silenciamento da expressão dos povos indígenas. O Cacique apresentou trabalhos de produção de filmes no território Katu que serviram para demonstrar o reconhecimento do povo indígena Potiguara Katu. Ele também tratou de casos de midiatização e jornalísticos que promoveram desinformação sobre os povos indígenas do RN e deu exemplos de abordagens jornalísticas que apoiaram e reforçaram a imagem dos povos indígenas no estado. Luiz Katu também falou da importância do conhecimento ancestral, as epistemologias indígenas do conhecimento na educação e na universidade e a tutela do Estado dos territórios indígenas.“Olha como a mídia utiliza a informação. A ideia de campo de concentração é ligada à Europa, mas os primeiros campos de concentração foram as aldeias em que os indígenas foram confinados. Mas a concepção do termo campo de concentração é outra, do Nazismo, construída pela historiografia e reproduzida pela mídia”, disse. Da perspectiva histórica, Luiz avançou para a contemporaneidade falando sobre as redes sociais e o uso das novas tecnologias pelos povos indígenas. “Nós precisávamos aparecer, ter nossa voz e imagem visibilizados para existirmos”, disse. A comunidade iniciou um projeto de produção audiovisual e formação na área com os jovens indígenas, tendo produzido dois filmes: “A tradicional família brasileira” e “Mukunan Aprendiz de Pajé”, que extrapolaram as divisas e circularam nacional e internacionalmente. A comunidade fundou uma distribuidora audiovisual, a Katu Produtora e Distribuidora de Filmes. “Olha a importância da mídia aí. As mídias são um grande gargalo para a visibilidade indígena”, comentou. Luiz Katu também é diretor de cinema indígena, coordenador do coletivo Etnokatu e dos guardiões potiguara Katu. O Cacique também é graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA). José Luiz Soares nasceu em 1976 em Goianinha. Ele é natural do território Katu e sofreu historicamente com o avanço do agronegócio e a luta pelo território e o reconhecimento dos povos indígenas. O cacique se tornou uma referência estadual na defesa dos direitos dos povos originários, da
demarcação de terras e um representante das tradições e dos saberes ancestrais.
Katu é professor da Escola Municipal Indígena João Lino da Silva e da Escola Municipal Indígena Alfredo Lima na aldeia Katu, nos municípios de Goianinha/Canguaretama. Luiz Katu foi um dos defensores da abertura de escolas indígenas no Rio Grande do Norte. A Escola João Lino foi reconhecida como a primeira indígena do estado e o cacique foi o primeiro diretor do colégio.