Muros que falam: mídias marginais urbanodigitais em contexto de necrogovernabilidade no Brasil (2019-2022).
Grafite; Lambe-lambe; Jair Bolsonaro; Necropolítica; Análise Crítica do Discurso.
O mapeamento de mensagens expostas em grafites/pichações e lambe-lambes dispersos pelo Brasil durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) constituiu o objetivo precípuo desta pesquisa. Essas mensagens, cerne do corpo analítico, provieram de fotografias registradas no espaço urbano de municípios brasileiros; e publicadas, durante o recorte temporal da pesquisa, em dois perfis do Instagram – @olheosmuros e @faltarte. A partir desse mapeamento, criamos uma taxionomia das palavras mais recorrentemente encontradas, com observação contextual do discurso inerente. A tese perscrutada é que estas mídias marginais atuaram, no Brasil, como meios de resistência no período de 2019 a 2022 – período aqui compreendido como de necrogovernabilidade –, apresentando conteúdo noticioso e/ou de denúncia dessa necropolítica. A análise, qualitativa quanto à abordagem e exploratória quanto aos objetivos, está acompanhada da combinação dos métodos de Análise de Conteúdo (AC) e de Análise Crítica do Discurso (ACD). Tal combinação pretendeu abranger os critérios de classificação e codificação do denso conteúdo coletado, assim como a materialidade do discurso circunscrita na relação entre o contexto social e o contéudo dessas mídias marginais. Utilizamos ainda as revisões bibliográfica e integrativa para composição do estado da arte, além do aplicativo de análise de textos Voyant Tools como base para leitura de dados e geração de núcleos discursivos. Textos de Yuval Harari (2020), Teun van Dijk (2008), Sampaio e Lycarião (2021), Slavoj iek (2014), Achille Mbembe (2018) e Tatiana Ribeiro (2023) colaboraram com a fundamentação teórica do estudo. Concluímos que as mídias marginais urbanodigitais reagiram ao contexto político, denunciando a violência contra grupos sociais minorizados, porém, enfrentaram os discursos de ódio com frases de teor poético e afetivo, majoritariamente. Nesse sentido, alcançamos a poesia como o gênero discursivo mais proeminente nessas mídias urbanas, e o amor como conteúdo interseccional que perpassa temas variados em combate às políticas de morte.