Estrategias corpossonograficas dissidentes no contexto do bregafunk
bregafunk; interseccionalidade; imagens de controle; estratégias de transcodificação; música
O presente texto desenvolve uma constelação corpossonográfica das intersecções em torno das estratégias de contestação das imagens de controle (Collins, 2019) que operam na construção de classe, gênero, localidade, raça e sexualidade (Crenshaw, 2002), nos videoclipes protagonizados por artistas LGBTQIA+ da cena bregafunk. A partir da compreensão dessas táticas de ressignificações de corpas dissidentes (Mombaça, 2021), o objetivo foi o de compreender como Danny Bond, Gyldo e Rayssa Dias desafiam um regime racializado e cisnormativo (Vergueiro, 2015) de representação de corpas negras, transexuais, lésbicas e bichas afeminadas que habita na diferença colonial em uma perspectiva de lócus fraturado (Braga, 2019). Assim, enquanto proposta de tese, as tecnologias de representação — dentre elas a música e o corpo — atuam para subverter os regimes identitários. O bregafunk e, especialmente, essas corpas estão intrinsecamente ligados ao processo de midiatização, que transforma o consumo de música e videoclipes on-line (Soares, 2021). Para além da problemática, o presente texto destaca a visibilidade dessas artistas em plataformas digitais como Spotify e Youtube e de como os algoritmos ressoam ou não as opressões que essas corpas já enfrentam no off-line. Esta análise se deu a partir da escolha de três videoclipes de cada artista, compreendendo as imagens que são (re)construídas como narrativa corporal e rítmica, a partir de um intercruzo metodológico que interseccionou demarcadores em um agrupamento imaginário de uma constelação fílmica (Souto, 2020) que fabula sobre o cânone de outras divas pop periféricas (Pereira de Sá, 2020). No cerne da análise, ao perceber as inscrições corpóreas, este trabalho identificou as estratégias de transcodificação (Hall, 2016) — de inversão dos estereótipos, imagens positivas, olhares internos e lugares enunciativos — e as zonas de negociação em que essas performances tensionam as lógicas que operam sobre os corpos e formas de ser para além de regimes de opressão. Conclui-se que essas artistas, nos limites fronteiriços, transcendem as imagens de controle, recriando outras imagens potentes para pensarmos na materialidade corpossonográfica desses produtos midiáticos.