DIFERENTES PERSPECTIVAS DAS INTERAÇÕES ECOLÓGICAS ENTRE CORAIS, ALGAS E HERBÍVOROS
Siderastrea stellata; Porites astreoides; Millepora alcicornis; Dictyopteris delicatula; Echinometra lucunter; Aplysia sp; Ampithoe marcuzzii; palatabilidade de algas; enriquecimento por ferro; mudanças climáticas
Interações ecológicas envolvem todos os organismos e ecossistemas que conhecemos. Em ambientes recifais, corais e algas são importantes organismos que interagem entre si de maneiras positivas, negativas, ou neutras, e tem suas interações influenciadas por efeitos top-down (mediados pelo consumidor) e bottom-up (mediados pelo produtor).
Os recifes e suas complexas interações estão sob ameaça de impactos locais e das mudanças climáticas globais, que podem alterar os padrões e resultados essas interações. Nesta tese, exploramos as interações ecológicas entre corais, algas e herbívoros sob diferentes perspectivas. No Capítulo I, fizemos uma revisão sistemática compreendendo os últimos 20 anos de estudos (2001-2020) e investigamos: i) onde essas interações têm sido mais exploradas globalmente; ii) quais os principais organismos envolvidos; iii) os resultados mais frequentes dessas interações; iv) os efeitos dos herbívoros sobre as interações; e v) os efeitos das mudanças climáticas sobre as interações. Observamos que: (i) as regiões do Pacífico e Caribe concentram 86% das interações estudadas; ii) os principais grupos envolvidos são corais massivos e ramificados e macroalgas e turf, com algumas variações entre as regiões; iii) corais adultos são majoritariamente prejudicados pelas algas sofrendo danos subletais enquanto corais juvenis podem ser beneficiados e prejudicados particularmente através do recrutamento; iv) a maior parte dos estudos avalia efeitos de herbivoria sobre interações coral-alga de forma indireta (e.g. correlação de abundâncias), com poucos esforços experimentais; e v) os efeitos das mudanças climáticas foram explorados em apenas 10% dos estudos, afetando negativamente o recrutamento de corais ou causando efeitos subletais, além de reduzir a abundância de algas. No Capítulo II, exploramos as interações coral-alga-herbívoro em um recife tropical no Brasil, buscando entender: i) a relação de suas abundâncias históricas; ii) a frequência atual de interações coral-alga; iii) o resultado dessas interações para corais e algas; iv) como o aquecimento poderá influenciar essas interações; e v) se diferentes herbívoros aquecimento. Observamos que i) a cobertura bentônica se manteve estável na última década, refletindo registros ainda mais antigos, com dominância de algas (60%) e baixa cobertura de corais (5.6%), um cenário que não parece ter relação com a biomassa local de peixes herbívoros; ii) as interações coral-alga são frequentes e 96% delas envolvem o coral Siderastrea stellata interagindo principalmente com algas turf; iii) a maior parte dessas interações leva a uma diminuição da eficiência fotossintética de corais, porém a vulnerabilidade varia entre espécies de corais; iv) interações coral alga em cenários de aquecimento continua igualmente prejudicial aos corais quando comparadas às interações em temperatura atual, com variações entre espécies; v) a macroalga dominante é pouco consumida por diferentes herbívoros, independente da temperatura, indicando pouco efeito sobe interações coral-alga. No Capítulo III, exploramos os efeitos do enriquecimento por ferro sobre a palatabilidade das algas, avaliando diferentes concentrações (controle, 100 µg/L, 300 µg/L, 900 µg/L) em três tempos de exposição (dias 0, 13/14 e 26/27), e vimos que diferentes concentrações de ferro não afetam a palatabilidade das algas, mas observamos um consumo maior no tempo de exposição médio, provavelmente pelo balanço entre defesa química e integridade da alga. Dessa forma, exploramos as interações coral-alga-herbívoros, evidenciando alguns padrões globais e descrevendo padrões regionais que desafiam paradigmas vigentes na ecologia de que a herbivoria é o principal fator na mediação das interações coral-alga.