Padrões de Ocupação e uso de Habitats Costeiros por Aves Limícolas Migratórias na Porção Semiárida do Litoral Brasileiro
Aves limícolas, ocupação, costa do semiárido, conservação.
As aves limícolas estão associadas a ecossistemas costeiros e anualmente realizam movimentos migratórios entre os hemisférios, partindo de sítios reprodutivos e deslocando-se para áreas de invernada. O litoral do semiárido brasileiro apresenta unidades paisagísticas com habitats aptos para essas aves. O conhecimento do uso destes habitats em função da estrutura da paisagem e de distúrbios antrópicos, pode ser útil para entendermos os padrões espaciais de ocupação das espécies que ocorrem na região. Para tal, em 2022 e 2023 realizamos seis campanhas de campo em 111 transectos de 1km, compreendendo 804 km do litoral do Ceará e Rio Grande do Norte. Para cada transecto fizemos buscas de quatro espécies ameaçadas de extinção (Calidris canutus, Calidris pusilla, Limnodromus griseus e Numenius hudsonicus) por meio de registros visuais com auxílio de binóculos e lunetas. Em cada local, foram registradas variáveis relacionadas à estrutura do habitat, incluindo distância do estuário e do perímetro urbano, disponibilidade de faixa de areia e intensidade do uso do local para o turismo. Além disso, foram coletadas informações sobre as variáveis de paisagem, como cobertura do solo em diferentes classes através de imagens de satélites. Analisamos a influência das variáveis ambientais sobre a ocupação da espécie por meio de modelos de ocupação estática, usando o programa MARK. A ocupação de cada espécie variou em função das variáveis. As três variáveis mais influentes na distribuição do conjunto das espécies foram relacionadas a distância de estuários, cobertura de área urbana e aquicultura. A resposta da ocorrência das espécies ao longo do gradiente das variáveis mostrou que para C. canutus teve a mais baixa ocupação dentre as espécies (Ѱ = 0,31), seguindo de L. griseus (Ѱ = 0,44), N. hudsonicus (Ѱ = 0,71) e C. pusilla (Ѱ = 0,72). Esses resultados indicam a vulnerabilidade das aves aos impactos antrópicos, especialmente relacionados à perda de habitats durante o período de invernada no litoral semiárido brasileiro. Nossos resultados contribuirão com estratégias de conservação, permitindo identificar as necessidades ecológicas com relação ao uso de habitats pela espécie.