O aquecimento dos oceanos pode ajudar zoantídeos a superar competitivamente hidrocorais ramificados?
mudanças globais; interações bióticas; saúde de corais; predições futuras
Dada a limitação espacial nos recifes, interações competitivas entre os organismos sésseis são recorrentes e geralmente ocorrem por meio de contato físico direto com eventual sobrecrescimento. Os resultados dessas interações podem ser alterados no futuro, uma vez que o aquecimento e a acidificação dos oceanos podem afetar a capacidade competitiva e o potencial de recuperação dos organismos envolvidos. No Atlântico Sul, o zoantídeo Palythoa caribaeorum é um dos competidores mais importantes para os corais e em cenários de aquecimento previstos para o futuro apresentará uma expansão da sua distribuição atual e provavelmente dominará os recifes no nordeste do Brasil. Para que isso ocorra, o zoantídeo deveria superar competitivamente e sobrecrescer o hidrocoral Millepora alcicornis, uma das espécies que mais agrega complexidade estrutural aos recifes brasileiros. A fim de ir além de previsões da distribuição futura das espécies e levando então em conta que interações também podem ser moduladas pelo aquecimento, estudamos a interação competitiva entre P. caribaeorum e M. alcicornis por meio de experimentos em campo e de laboratório. Especificamente, investigamos em campo e em laboratório o efeito do contato físico na saúde do hidrocoral e o potencial de recuperação do mesmo após interrupção do contato, além de testar como o aquecimento dos oceanos pode afetar esses processos, investigando essa interação em laboratório em temperatura atual (27°C) e simulando um cenário futuro previsto para 2100 (30°C). Adicionalmente, como a interação competitiva pode ser potencialmente mediada por compostos químicos do zoantídeo, extraímos os compostos de superfície e testamos seus efeitos no hidrocoral no campo e no laboratório sob os diferentes cenários de temperatura. Descobrimos que o contato com o zoantídeo causou mais danos do que com o controle mimético no campo e no primeiro dia em 30°C. Os hidrocorais no campo não se recuperaram em um curto período (10 dias), mas em laboratório apresentaram uma recuperação parcial da área danificada quando em temperatura atual (27°C). Quando em 30°C, as áreas danificadas de hidrocorais que estiveram em contato com o zoantídeo foram parcialmente colonizadas por algas filamentosas. Embora os hidrocorais tenham apresentado sintomas semelhantes ao comparar os cenários de temperatura atual e futura, o potencial de recuperação diminuiu com o aquecimento, em parte por ter favorecido a colonização por algas filamentosas. Um efeito pior no campo e um dano maior no primeiro dia nos 27°C do laboratório foram sinais da atividade química de P. caribaeorum favorecendo a competição. Os testes dos compostos químicos isolados de P. caribaeorum em contato com M. alcicornis indicaram tendência a influenciar na interação e revelaram que um aumento de 3°C na temperatura da água torna qualquer contato danoso a M. alcicornis. À medida que o oceano aquece, a interação competitiva que estudamos se tornará mais frequente e os zoantídeos terão mais chances de debilitar e sobrecrescer hidrocorais ramificados, e possivelmente outros corais ramificados em áreas onde o zoantídeo é abundante, como nos recifes do Caribe, causando perda de complexidade estrutural nos recifes e potencialmente perda de diversidade. Este trabalho destaca a importância de também se considerar como as interações ecológicas serão afetadas pelas mudanças globais ao se fazer previsões futuras para as mudanças e funcionamento de sistemas recifais.