Efeitos das macroalgas sobre os recursos pesqueiros e socioeconomia em uma região tropical
Florações; pesca; macrofauna; conhecimento ecológico local; metais pesados; substratos não consolidados; estuário; Nordeste brasileiro
Macroalgas são engenheiras dos ecossistemas, aumentando sua complexidade e servindo de abrigo, alimento e superfície para o assentamento de organismos marinhos. Entretanto, quando em altas biomassas, estas comprometem as funções e serviços ecossistêmicos, promovendo a liberação de toxinas e comprometendo a disponibilidade de oxigênio no ambiente. Por consequência, causam efeitos negativos sobre a macrofauna, principalmente a bentônica. Estes efeitos tendem a impactar as atividades pesqueiras, o pescado e os pescadores, e trazem preocupações de cunho ambiental e socioeconômico. O presente trabalho tem como objetivo: (1) avaliar a fauna de invertebrados da pesca camaroeira artesanal e os efeitos das macroalgas sobre os camarões de interesse econômico e fauna acompanhante nas regiões leste e semiárida do Rio Grande do Norte (2) analisar a abundância da macroalga Ulva lactuca na região estuarina da bacia do Piranhas-Açu, abordando o histórico das florações e impactos socioeconômicos relacionados à comunidade de pescadores locais. Foram realizados arrastos de barco bimensais em duas regiões costeiras do estado do Rio Grande do Norte e o acompanhamento da abundância de macroalgas, qualidade da água e do sedimento na região estuarina da bacia do Piranhas-Açu. Ainda, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas para abordar o conhecimento ecológico dos pescadores relacionados à macroalga. (1) A produção camaroeira se mostrou vantajosa no litoral leste do estado, onde ocorrem baixas biomassas de macroalgas, alta pluviosidade e sedimentos finos ricos em matéria orgânica. No litoral semiárido, entretanto, houve baixa abundância de camarões e altas biomassas de algas. Em áreas com maior biomassa e riqueza de algas, os camarões exibiram menor diversidade e maior dominância, e a fauna acompanhante teve sua densidade favorecida. (2) As altas biomassas de algas, que se concentraram à montante do estuário, se relacionaram positivamente com a concentração de nutrientes, maior transparência da água e menor hidrodinamismo, fatores comuns encontrados durante longos períodos secos, e que favorecem a respiração fotossintética e desenvolvimento das macroalgas. O conhecimento ecológico detido pelos pescadores locais nos proporcionou uma melhor compreensão do histórico das florações no estuário e os impactos destas sobre a pesca, sendo as redes os petrechos mais impactados, e a captura de peixes prejudicada nos momentos de floração. Possíveis usos para a macroalga foram discutidos visando seu controle.