Padrões de ocupação de duas espécies de aves em um fragmento na porção nordeste do Centro de Endemismo Pernambuco
Mata atlântica, restinga, CEP, mata estrela, ocupação, exclusão competitiva, coexistência, Conopophaga melanops, Conopophaga cearae
O Brasil é conhecido por seus ecossistemas megadiversos e talvez o mais famoso, depois da floresta amazônica, é a mata atlântica. Devido o fato de estar inserida, em sua grande maioria, no litoral brasileiro a mata atlântica sofreu e sofre impactos constantes e intensos advindos de atividades extrativistas e alguns estudos apontam que restam apenas 7% da sua extensão original. Apesar disso, ela é considerada um dos 34 hotspots mundiais, com quantidades elevadas de endemismos e espécies ameaçadas, em outras palavras, é uma das áreas mais importantes do mundo para ações de conservação. O presente trabalho visa gerar mais conhecimento científico sobre o Centro de Endemismo Pernambuco (CEP), mas devido à dificuldades logísticas focamos apenas um fragmento na porção nordeste do CEP. O Rio Grande do Norte possui 339.107,68 hectares de sua área inseridos no domínio mata atlântica, o que equivale a cerca de 6,5% da extensão total do estado. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata Estrela, o maior fragmento de mata atlântica no RN, que além de ser considerada uma das três IBAs (Áreas Importantes para a Conservação de Aves) do estado, também é foco de estudos para a criação de um corredor ecológico que conecte todos os remanescentes de restinga arbustivo-arbóreas litorâneas do estado. Além do status de conservação de remanescentes, tomar conhecimento sobre a estruturação das comunidades neles compreendidas também é fundamental para tomada de decisões de conservação. Um dos principais responsáveis pela estruturação de comunidades é a competição interespecífica que, via seleção natural, determina a composição de espécies. A coexistência de espécies é outro fator atrelado à competição que atua na estruturação de comunidades e depende da plasticidade de nicho das respectivas espécies. Estimativas de ocupação de áreas por uma ou mais espécies vem sendo cada vez mais usadas como ferramenta na modelagem da dinâmica dessas espécies, guiando também estratégias de monitoramento e ações de manejo. O presente trabalho consiste em investigar, com iscas vocais (playback) em pontos de escuta, os padrões de ocupação de duas espécies da família Conopophagidae: Conopophaga cearae (chupa-dente-do-nordeste) e Conopophada melanops (cuspidor-de-mascara-preta). Foram selecionados 80 pontos de escuta (metade deles na mata atlântica e a outra metade na restinga) com 100 metros de raio e intercalados 200 metros entre si. Cada ponto foi visitado em três ocasiões, em duas estações distintas: estação seca (setembro, outubro e novembro de 2016) e úmida (maio, junho e julho de 2017). Medimos quatro variáveis ambientais: abertura do dossel, altura da serrapilheira, densidade de vegetação e diâmetro na altura do solo (DAS). Essas variáveis foram combinadas com os parâmetros de ocupação e detecção no programa MARK e geraram um ranque de modelos candidatos à explicar os dados empíricos. Os modelos foram ordenados hierarquicamente de acordo com valores de AIC. Com base na literatura, esperamos registrar maior probabilidade de ocupação de C. melanops em áreas mais florestais, bem como maior probabilidade de ocupação de C. cearae em áreas de restinga. Assim sendo, é esperado que haja pouca ou nenhuma coexistência dessas espécies, visto que seus requerimentos ambientais são aparentemente distintos e não há necessidade de encontro com possíveis competidores.