O DIREITO A UM PASSADO NA LUTA PARA EXISTIR NO PRESENTE: DISPUTAS PELA MEMÓRIA INDÍGENA NAS ESCRITAS DA HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE (1994-2021)
Espaço de memórias. Historiografia. Livro Didático Regional. História Indígena. Rio Grande do Norte.
Em junho de 2005, a existência de povos indígenas no estado potiguar se tornou fato público e ganhou visibilidade na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. No entanto, tal feito entrou em conflito com as narrativas consolidadas pela historiografia clássica local, que admitiam um desaparecimento dessas identidades étnico-culturais no estado. Diante disso, os objetivos desta pesquisa são investigar como a memória do desaparecimento indígena no Rio Grande do Norte após o processo de emergência étnica de povos indígenas no estado tem sido enfrentada nas escritas da história norte-rio-grandense e identificar as principais rupturas e permanências nestas narrativas ao longo do período de 1994 a 2021. Essa problemática é levantada a partir da compreensão de que livros de história são lugares de memória (Nora, 1993) e que, nesses espaços, existem disputas travadas visando a consolidação de uma memória que atenda a determinados interesses políticos e sociais (Assmann, 2011; Chesneaux, 1995; Krenak, 1999; Menget, 1999). Para tanto, apropria-se da Análise de Conteúdo (Bardin, 2007) como metodologia e se estabelece dois conjuntos de fontes a serem analisadas: a produção de livros didáticos de História Regional e as escritas da História Indígena do RN elaboradas no âmbito acadêmico, contemplando trabalhos de História e Antropologia produzidos dentro e fora de instituições do estado. Se parte do ano de 1994 ao dar continuidade às análises da temática indígena em obras didáticas do RN iniciadas por Flademir Dantas (2020) e se contempla até 2021, pois esse é o ano do último trabalho publicado antes do início da pesquisa. Nesse sentido, se pode verificar permanências nas formas de se narrar a história do RN, como a concentração expressiva da história indígena no Período Colonial, principalmente levando-se em consideração a influência da historiografia clássica local e da tradição escolar. Porém, também foi possível identificar rupturas que visam o atendimento de demandas postas pelo movimento indígena, como o reconhecimento da existência dos atuais povos indígenas do estado, a produção de pesquisas que priorizam abordar a agência indígena e o trabalho com a memória oral das comunidades, majoritariamente realizado na área da Antropologia. Foi concluído que essas são conquistas importantes para sanar os danos causados pela memória do desaparecimento indígena no Rio Grande do Norte e se procurou refletir sobre quais caminhos podem ser seguidos para dar continuidade a construção de uma outra história no estado.