A Necropolítica no município do Crato: o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto e o Campo de Concentração do Buriti na década de 1930
Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Campo de Concentração do Buriti. Estado de Exceção. Eugenia. Necropolítica.
A presente pesquisa tem como temática a formação de dois espaços que, com iniciativas diferentes em sua organização e seus objetivos, tiveram em comum o agrupamento de pessoas que migravam de suas terras natais e de origem rural para o município do Crato, no interior do estado do Ceará. Estamos falando da comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, criado em 1926 e destruído definitivamente pelo Estado em 1938, e do Campo de Concentração do Buriti criado durante a seca de 1932 e tendo suas atividades finalizadas em 1933. A perspectiva da nossa análise é que, apesar de serem forjados de forma diferente, ambos os espaços, os quais foram inclusive experiências contemporâneas entre os anos de seca de 1932 e 1933, tiveram características comuns sobretudo no que se refere a gente que lá se encontrava, pessoas de origem sertaneja, que naquela época eram vistas como um empecilho para o momento de transformação que a sociedade brasileira passava. Estudar esses dois espaços é estudar a história dos sertanejos que migravam, seja para um espaço também rural onde poderiam ter outras formas de existência em que os trabalhadores e trabalhadoras usufruem do seu próprio trabalho, o que não acontecia nas propriedades onde os fazendeiros mantinham uma relação de posse da terra visando o mercado e a mercadoria; seja migrando para a cidade para também buscar uma nova forma de vida diferente daquela que estes trabalhadores e trabalhadoras estavam habituados na zona rural. A nossa pesquisa leva em consideração alguns conceitos como os de racismo, necropolítica, biopoder e estado de exceção, para tanto faremos uma discussão teórica partindo de autores como Achille Mbembe, Michel Foucault e Giorgio Agamben. O que vemos é que também na democracia burguesa existe um projeto que naturaliza e normaliza o estado de exceção em um dado segmento da sociedade, onde tudo é possível, inclusive tirar a vida de pessoas consideradas, pelas classes dominantes, indesejadas ou as condições básicas de existência destas, além de promover a exposição de corpos à morte. Para tanto trabalharemos com fontes diversas como jornais da época, boletim de eugenia, pronunciamentos e documentários.