Sertão; Espaço; Representação; Discurso;
O sertão não é apenas espaço geográfico circunscrito por fronteiras fisicamente estabelecidas. Ele é espaço constituído por acontecimentos, experiências, costumes, simbologias, modos de viver e ver o mundo. É espaço desenvolvido a partir de processos históricos e camadas de discursos que travam contatos umas com as outras, concorrem entre si, estabelecem acordos, promovem consensos que o definem, ressignificam e atualizam ao longo do tempo. Esse trabalho tem como objetivo analisar e discutir as formas como os discursos produzidos pela Literatura de Cordel vendida e consumida nos locais de circulação popular, nas cidades do sertão e do litoral, durante as quatro primeiras décadas do Século XX, representaram o ambiente, os costumes, códigos morais, traços culturais, tipos sociais, ritos e crenças, associadas ao sertão nordestino, bem como serão investigadas as formas como os discursos produzidos por essas representações contribuíram com a constituição do sertão enquanto espaço culturalmente construído. Serão utilizados poemas do poeta e editor João Martins de Athayde a fim de estabelecer diálogos entre os discursos produzidos pelo cordel e outras modalidades discursivas, tais como, jornais, literatura em prosa, pintura, textos de memorialistas e historiografia, acerca do sertão, analisando-se, assim, as formas com as quais essas representações circularam, foram consumidas e apreendidas por habitantes do sertão e de outros espaços, travaram contatos e acordos com outros tipos de discurso, ajudando a estabelecer o sertão como espaço e o sertanejo enquanto tipo social.