Espaço de memória traumatizado: o apagamento da memória dos Ginásios Vocacionais de São Paulo e suas repercussões na historiografia (1960-1971)
Ginásios Vocacionais; ditadura militar; trauma histórico.
Meu objetivo principal com este trabalho será investigar o espaço de memória (Nora, 1993) formado pela historiografia que trata dos Ginásios Vocacionais de São Paulo, uma experiência inovadora de ensino que existiu naquele estado entre 1962 e 1969, no que ele sofreu com a interrupção abrupta protagonizada pelos agentes do Estado Militar (Germano, 2011) entre 1969 e 1971, ocasionando o que espero demonstrar ter sido um trauma histórico (Rüsen, 2001; LaCapra, 2001; Roth, 2012; Lima, 2016). A fim de realizar esta tarefa, trabalharei com fontes primárias acerca da experiência dos Ginásios Vocacionais retiradas do Centro de Documentação e Informação Científica (CEDIC), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), bem como com matérias de jornal retiradas do site do Arquivo Nacional, além da própria historiografia, que me servirá tanto como fonte quanto como material do qual retirarei outras documentações relevantes para a consecução desta pesquisa (Chiozzini, 2003; 2010; Mascellani, 2010; Neves, 2010; Tamberlini, 1998). Por meio da aplicação do método histórico (Rüsen, 2015), pretenderei demonstrar que a interrupção da experiência dos Vocacionais, devido à violência com que foi realizada, impetrou um trauma histórico no espaço de memória perceptível na própria historiografia e que remete às vontades de memória dos agentes do Estado Militar no modo com que eles interpretaram tal experiência. Logo, concluo que os Vocacionais não sofreram apenas com a violência estatal no passado, mas a memória sobre eles continua sofrendo no presente as consequências do não enfrentamento do passado ditatorial brasileiro, tanto que a própria historiografia, a qual deveria ser crítica à memória instaurada pelos militares, tende a repeti-la acriticamente.