“NA ORLA CINZENTA DO HORIZONTE”: O ESPAÇO DAS MEMÓRIAS DE MARIA FIRMINA DOS REIS (1859-1917)
Maria Firmina dos Reis foi uma escritora, professora e compositora maranhense (1825-1917). Sua primeira obra publicada, Úrsula (1859) é considerada o primeiro romance abolicionista do Brasil. Este trabalho tem como objetivo investigar o espaço das memórias na literatura de Maria Firmina dos Reis. Para isso, é investigado o contexto em que a autora viveu: o Maranhão do século XIX e o espaço ocupado por ela na literatura e na imprensa. As experiências de Firmina dos Reis enquanto mulher negra e a construção de seu espaço literário são relacionados com o objetivo de analisar o protagonismo negro e feminino em suas obras. As fontes principais elencadas para essa investigação são o romance Úrsula (1859) e os contos A escrava (1887) e Gupeva (1861). Os jornais do Maranhão do século XIX são mobilizados como fontes de cotejo, assim como o diário da autora chamado O Álbum. A literatura neste trabalho é pensada enquanto espaço das memórias de Firmina dos Reis a partir de Aleida Assmann, Jacques Le Goff, Luís Santos e Silvana Oliveira. Esse espaço construído por meio da escrita é considerado como lugar de atuação do sujeito no qual suas experiências e vivências transbordam nas representações literárias. Esse sistema de representações vinculado às experiências do sujeito é analisado a partir de Conceição Evaristo e Jacques Derrida. A literatura aqui também é pensada enquanto espaço político a partir das considerações de Rene Rémond, Gilles Deleuze e Félix Guattari. Busca-se compreender como Firmina dos Reis representa a sociedade oitocentista na sua literatura, especialmente no que diz respeito às mulheres e aos negros, bem como as possíveis críticas que podem surgir de suas tramas, tendo em vista sua condição de mulher negra no Brasil do século XIX.