O CORPO FEMININO COMO ESPAÇO DE MEMÓRIAS DAS TORTURAS DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA
Espaços corpóreos, memórias, torturas, corpos femininos, ditadura militar
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma discussão em torno do corpo feminino como espaço de inscrição das memórias das torturas sofridas por mulheres que ao optarem desempenhar o papel de opositoras à Ditadura Militar brasileira (1964-1985), passaram a ser perseguidas e, posteriormente, tornaram-se presas políticas. Essas mulheres veem a si mesmas e a seus corpos converterem-se em espaços passíveis de torturas, não apenas físicas, mas também psicológicas e emocionais, torturas essas que impetraram sobre si inscrições e memórias. Para realizar esse trabalho de análise dos discursos e memórias acerca dos corpos femininos torturados, de forma completa e significativa, decidi me dedicar à observação das narrativas de quatro mulheres que carregam sobre os seus corpos traumas das sevícias e agressões de que foram objetos. Mas não apenas isso, nos interessa interpretar como seus corpos são pensados, narrados, mirados e tocados contemporaneamente a partir das memórias que carregam de suas dores e vivências. No que concerne aos aspectos metodológicos, a singularidade das fontes presentes nesta pesquisa demandou a utilização da análise de discursos arqueogenealógica das memórias, testemunhos e narrativas que foram realizadas desde o final dos anos de 1990 até o presente momento. São discursos que apresentam um viés oficial, por serem testemunhados para determinados órgãos governamentais, até entrevistas concedidas à veículos da imprensa.