BOI DE PRATA: TERCEIRO MUNDO, CINEMA E CULTURA POTIGUAR (1970-1980)
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Um filme no formato 8mm, em preto e branco, era projetado na parede da sala com cenas da
festa do casamento de um casalzinho muito jovem. Ele era alto e esguio, com grandes olhos claros;
ela, morena, de lábios grossos, cabelos curtos encimados por um diadema de strass de onde pendia
um véu que descia até a altura da cintura fina, marcada pelo recorte do vestido de cetim e renda
brancos. Estavam nessas cenas várias pessoas da minha família, por isso, eu procurava a mim e aos
meus irmãos, mas não nos achava. Pudera! Era o filme do casamento dos meus pais, no ano de
1958. Eu só nasceria 4 anos depois. O cinema, com suas imagens, movimentos, sons e encantos tem
o dom de nos fazer sentir emoções relacionadas a fatos reais ou criados, fatos do passado ou do
futuro, que sequer presenciamos ou presenciaremos. O cinema cria histórias, emoções e mundos; é
uma arte que nasceu de uma técnica – a fotografia – e de um falha no nosso aparelho ótico – a
manutenção da imagem em nosso cérebro mesmo depois que a imagem já não está mais presente
(INFANTE,2013, P. 7) – mas causa tanta paixão, expectativa e comoção à assistência, que sua
origem não tem a mínima importância para o espectador. Aliás, quanto mais ingênuo e livre do
conhecimento das causas e técnicas, maior é o prazer de quem assiste aos filmes. Porém, ao
estudioso não é dado esse direito. Ele tem que buscar saber o que está aquém e além da tela, e tem
muito para descobrir.