OS TRABALHOS NÃO REMUNERADOS DAS MULHERES RURAIS NO BRASIL: UM ESTUDO A PARTIR DA PNAD CONTÍNUA - 2018
Trabalho não remunerado, divisão sexual do trabalho, mulheres rurais, dominação, exploração.
Este estudo teve como objetivo analisar as particularidades dos trabalhos produtivo e reprodutivo não remunerados das mulheres no meio rural brasileiro. Ou seja, a totalidade de trabalhos que estas mulheres realizam de forma gratuita, tanto na esfera da produção quanto da reprodução/doméstica. Os pressupostos teóricos se referenciam na tradição marxista em diálogo com as elaborações no campo do feminismo materialista e da economia feminista. Assim, refletimos sobre a consubstancialidade das relações sociais de sexo, raça e classe, sobre a divisão sexual do trabalho, o trabalho doméstico e de cuidados como base de sustentação da subordinação e exploração das mulheres na sociedade capitalista-patriarcal-racista. A base empírica do nosso estudo foram os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE referente ao ano de 2018. A partir deles caracterizamos as diferentes formas de trabalhos realizados pelas mulheres rurais: a) o trabalho em ocupação não remunerada; b) os afazeres domésticos; c) o trabalho de cuidados de pessoas e; d) o trabalho para o próprio consumo, considerando diferentes variáveis como cor ou raça, idade e nível de instrução. O resultado evidenciou a permanência significativa das mulheres em atividades – produtivas e reprodutivas – não remuneradas. Homens e mulheres participam do trabalho produtivo/doméstico, mas as mulheres continuam como responsáveis majoritárias por esse tipo de trabalho. A participação dos homens obedece a uma hierarquia nos tipos de tarefas que realizam. O trabalho reprodutivo/doméstico reafirma-se como um ciclo quase inquebrável, como prática que atravessa as diferentes gerações de mulheres. A condição das mulheres rurais enquanto trabalhadoras duplamente não remuneradas nos desafiam a aprofundar a reflexão sobre o processo de subordinação e exploração que estas vivenciam em seus cotidianos.