Território e territorialidade negra em Coqueiros-BA: da prática socioespacial quilombola à afirmação identitária
Território. Quilombo. Identidade. Territorialidade. Contra Racionalidade. Prática Socioespacial.
O território quilombola de Coqueiros-BA está localizado no município de Mirangaba e pertence geograficamente ao território de identidade Piemonte da Diamantina no Estado da Bahia. A ocupação territorial do Piemonte da Diamantina caracteriza-se pela dimensão produtiva originada do ciclo do ouro e da mobilidade populacional, recorrente na colonização e interiorização do Brasil. Este movimento representava ao mesmo tempo a área de fluxo do empreendimento da coroa em busca do ouro e também uma rede de comunicação conflituosa e estratégica da capitania da Bahia com a região das Minas Gerais. A mobilidade social resultante estabelecia conexões entre pontos aparentemente dispersos sobre o território baiano. Estes, transformaram-se em núcleos populacionais que refletiam os interesses e as contradições presentes na ocupação destes espaços. Assim, importantes rotas foram definidas contribuindo para a legitimação e afirmação do povoamento das diversas regiões. Por estes caminhos, a projeção de uma materialidade sobre o espaço capitalista revelavam as estratégias de dominação, que no seu bojo tentava também eliminar traços recorrentes dos valores culturais dos povos afros. Para este intento, os objetos geográficos dotados de simbologias presentes tornaram-se fundamentais ao contribuir para reificação de uma sociedade com valores e referências predominantes na consolidação do Estado-Nação brasileiro. Em meio a esta teia de relações materializadas no território, foi através da ocupação quilombola que os povos africanos, movidos pela cosmogonia presente na interpretação cultural e geográfica de mundo, criavam e reinterpretavam os sentidos estéticos e ideológicos predominantes na América à luz de conhecimentos transoceânicos e diaspóricos, produzindo paralelamente espaços subalternos e de contra racionalidades com fortes traços culturais e de auto- referência. Estes, movidos por uma autonomia e luta constante frente aos espaços institucionalizados contribuíram por revelar as organizações coletivas e habitacionais cujas práticas resistiram e fundamentaram o emergente e desafiador reconhecimento de sua espacialidade pelo estado brasileiro na atualidade.