Análise imuno-histoquímica de fatores relacionados à resistência terapêutica em neoplasias de glândula salivar
transportadores ABC; transição epitelial-mesenquimal; resistência a múltiplas drogas; neoplasias das glândulas salivares; imuno-histoquímica.
Introdução: A resistência terapêutica no câncer é um processo complexo e multifatorial, no qual os tumores são intrinsecamente resistentes às terapias ou adquirem resistência ao longo do tratamento. Nesse contexto, destaca-se o papel dos transportadores ABC (uma grande família de proteínas transmembrana dependentes de ATP, relacionadas ao efluxo de drogas) e de fatores de transcrição envolvidos no processo de transição epitélio-mesênquima (TEM). Objetivo: Avaliar a expressão imuno-histoquímica de ABCB1, ABCG2, Twist1 e Snail1 em neoplasias de glândula salivar e correlacioná-la com os parâmetros clínico-patológicos e prognósticos. Metodologia: A amostra consistiu em 20 casos de carcinoma mucoepidermoide (CME), 19 casos de carcinoma adenoide cístico (CAC), 14 casos de carcinoma de células acinares (CCA) e 20 casos de adenoma pleomórfico (AP). Foram realizadas as análises clínico-demográfica, morfológica e imuno-histoquímica, utilizando os anticorpos ABCB1, ABCG2, Twist1 e Snail1. Os dados coletados seguiram para análise descritiva e estatística (p≤0,05). Resultados: Todos os casos de CAC, CCA e AP foram negativos para ABCB1, e apenas 35% dos CME apresentaram marcação para este transportador. Verificou-se expressão significativamente maior de ABCG2 em casos de CME e AP, quando comparados com casos de CCA (p<0,01). Observou-se, também, maior expressão de Twist1 (núcleo) em CME, quando comparados aos CACs e CCAs (p<0,05). Além disso, constatou-se expressão significativamente maior de Twist1 (citoplasma) em CCA e CME, quando comparados, ambos, aos CACs e APs (p<0,01). Em relação ao Snail1, verificou-se maior expressão desta proteína no núcleo em casos de CAC comparados aos CCAs (p<0,0001), enquanto sua marcação citoplasmática foi maior em CME comparada aos outros tumores (p<0,01). Nos casos de CAC, observou-se imunoexpressão significativamente maior de Twist1 (núcleo e citoplasma) em casos com necrose (p<0,05) e em tumores com grau III/alto grau (p<0,05). No CME, observou-se expressão significativamente maior de Snail1 (núcleo) afetando pessoas idosas (p=0,028) e localizados em glândulas salivares maiores (p=0,045), enquanto sua menor expressão citoplasmática foi associada com a ocorrência de metástase à distância (p=0,021) e de óbito (p=0,021). Adicionalmente, no CME, verificou-se correlações positivas e significativas entre o transportador ABCG2 com ABCB1 e com Twist1 (núcleo) (p<0,05), além de correlações negativas entre Twist1 (citoplasma) com Snail1 nuclear e citoplasmático (p<0,05). As análises de sobrevida em cinco anos evidenciaram que a presença de metástases (linfonodal e à distância) e estágio clínico avançado têm impacto significativo na redução da sobrevida global e livre de doença dos pacientes com CAC e CME, ao passo que a expressão de Twist1 (citoplasma) foi associada a pior sobrevida livre de doença em CME. Conclusões: Sugere-se que o transportador ABCG2 possa atuar no mecanismo de quimiorresistência intrínseca, enquanto o ABCB1 parece não estar diretamente envolvido nesse processo; e que os fatores de transcrição Twist1 e Snail1, extremamente importantes para a TEM, possivelmente têm um papel significativo, também, na quimiorresistência de neoplasias malignas de glândulas salivares.