SABORES DA TERRA E SABERES PLURAIS: O TEMPO ESCOLAR E O TEMPO DA VIDA EM UMA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO CRÍTICO
Saberes comunitários e escolares. Projetos de letramento. Oficinas de letramento. Alunos pesquisadores. Cultura local.
Esta pesquisa tem como objeto de estudo a maneira como se articulam os saberes comunitários aos escolares nas instituições de ensino e, consequentemente, como essa articulação contribui na formação crítica e cidadã dos estudantes. A realização deste estudo justifica-se, principalmente, pelo distanciamento entre as práticas pedagógicas e mundo real dos alunos. A pesquisa tem como objetivo geral compreender as razões pela quais a participação colaborativa e a articulação dos saberes escolares aos comunitários, por meio de projetos e oficinas de letramento, potencializam a formação de alunos, aqui vistos como pesquisadores de cultura. Como objetivos específicos, o estudo pretende: 1) analisar se e de que forma as oficinas de letramento podem favorecer a articulação entre os saberes escolares e os saberes comunitários e a participação colaborativa de agentes de letramento na construção do conhecimento; 2) apontar e descrever recursos e artefatos de letramento que viabilizem o engajamento dos alunos e de outros agentes de letramento às práticas escolares, mobilizem os seus saberes e habilidades e valorizem a sua condição de aprendizes protagonistas, ativos e críticos; e 3) argumentar em favor dos eventos e práticas de letramento como dispositivos didáticos que oferecem potencial para promover a construção do pesquisador jovem interessado em reconhecer e valorizar a cultura local dentro e fora dos muros da escola. Teoricamente, esta pesquisa fundamenta-se nos construtos teóricos advindos dos estudos de letramento (Street, 1984; Baynham, 1995; Kleiman, 1995; 2000; Oliveira; Kleiman, 2008); das orientações da pedagogia crítica (Freire, 1989; McLaren, 1997) e da pedagogia da alternância (Cordeiro et. al., 2011); da teoria sobre a ecologia do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1996) e das reflexões acerca dos conceitos de curiosidade epistêmica (Freire, 1999; Oliveira, 2021), aluno pesquisador (Thompsom; Gunter, 2007; Demo, 1996; 2002; Egan-Robertson; Bloome, 1998), cultura e linguagem (Attali, 1991); letramento situado (Barton, 1998), projetos de letramento (Kleiman, 2000; Oliveira; Tinoco; Santos, 2014; Oliveira, 2016), eventos de letramento (Heath, 1982), práticas de letramento (Street, 1984; Hamilton, 2000) e multiletramentos (Rojo, 2009). Metodologicamente, a pesquisa segue o modelo qualitativo-interpretativista (Moita Lopes, 1994; Erickson, 1990) de viés etnográfico (André, 2005; Kleiman, 1998). Os dados foram gerados a partir da realização de entrevistas, materiais documentais (textos dos alunos) e notas de campo relativas às oficinas de letramento realizadas. Esta pesquisa permitiu compreender que as oficinas de letramento são importantes dispositivos didáticos que valorizam todas as práticas sociais em que os estudantes estão envolvidos, articulando-as aos conteúdos escolares. Isso revelou como a relação entre escola e comunidade pode construir estudantes engajados e pesquisadores da própria cultura.