“Ecologia Humana e a pesca do búzio na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (Macau, RN): contribuições ao manejo participativo de Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia: Veneridae)”
Ecologia Humana, Áreas Protegidas, Anomalocardia brasiliana, mariscagem,
As áreas costeiras e marinhas estão sendo submetidas a pressões cada vez maiores decorrentes da pesca, turismo e desenvolvimento urbano. A criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) surge no cenário internacional como estratégia para ajudar a manter os recursos pesqueiros e conservar a biodiversidade. Mas a criação de AMPs é complexa, considerando que comunidades litorâneas têm na pesca e mariscagem sua principal fonte de alimento e renda. Assim as preocupações com os estoques pesqueiros vão além dos aspectos ecológicos e criação de áreas protegidas. Entender o comportamento dos pescadores e reconhecê-los como elos fundamentais no manejo tornou-se essencial. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão (RDSEPT) as comunidades litorâneas dependem diretamente da pesca artesanal, o que inclui a cata do búzio Anomalocardia brasiliana. Apesar de ser uma RDS, pouco se conhecia sobre a forma de exploração desta espécie, seguindo o padrão nacional de invisibilidade que a extração de moluscos para subsistência tem no Brasil. A pesquisa proposta teve como objetivo caracterizar a mariscagem na reserva, de maneira a subsidiar diretrizes para o ordenamento da exploração. Através de entrevista, monitoramento, desembarque e observação no período de janeiro/2010 a maio/2011, pode-se levantar o perfil das famílias marisqueiras e realizar 681 registros de mariscagem e 461horas de observação. Na reserva as comunidades se diferenciam no uso do estuário, de apetrechos e volume de extração. Idade é outro fator que altera a produção. A produção média por extração é 125 kg de conchas e 7,4kg de carne; a produção bruta anual estimada é 410 T. Forragear em grupo não altera a produção por esforço de pesca. As famílias marisqueiras extraem conchas do tamanho recomendado (>20mm) e podem gerar informações com qualidade e quantidade, desde que capacitadas. O ordenamento da mariscagem deve reconhecer o uso diferenciado do recurso pelas famílias e contar com sua participação nas decisões.