Projeto Raia de Fogo II: Ecologia e Filogeografia de Dasyatis marianae Gomes, Rosa & Gadig 2000
raia; modelagem; morfometria; genética; dieta; diferenças.
Um grande número de tubarões e raias habita áreas costeiras tropicais. Diferentemente dos ambientes pelágicos em mar aberto, as áreas costeiras estão mais sujeitas a variações, tanto por ações antrópicas como pela influência continental, geográfica ou climática resultando numa grande diversidade de habitats. Algumas espécies podem apresentar estreita relação com determinados habitats a ponto de ser possível distinguir padrões específicos para localidades diferentes. Dasyatis marianae é uma raia endêmica do nordeste do Brasil, ocorrendo do Maranhão ao sul da Bahia, exclusivamente sobre a plataforma continental. Com uma distribuição restrita, esta raia se mostrou estenotópica, apresentando baixa amplitude de tolerância às condições ambientais, principalmente a temperatura, salinidade e profundidade. Em consequência, D. marianae apresentou diferenças morfológicas, ecológicas e moleculares intraespecíficas ao longo de sua distribuição geográfica. As raias mais ao sul da distribuição são maiores e apresentam um padrão morfométrico distinto em relação as raias das localidades mais ao norte. Além disso, apresentam menor diversidade genética e uma maior preferência por crustáceos, em sua dieta. De uma forma geral, D. marianae está dividida em duas populações geneticamente estruturas, uma ampla população conectando os extremos de sua distribuição e outra população mais restrita, localizada na costa de Salvador. Características ambientais locais isolam essa população, mesmo sem uma barreira física fácil de ser identificada. O padrão de estruturação populacional de D. marianae sugere um isolamento por ambiente (IBE), onde a interação entre a espécie e o habitat estruturam sua variação espacial, independente da distância. Este trabalho, baseado numa abordagem integrativa (morfologia, alimentação, modelagem de nicho e filogeográfica), certamente gera subsídios para ações de manejo e conservação dessa espécie que, de acordo com a Portaria MMA n° 43/2014, é prioritária para pesquisas sobre seu estado de conservação.