Em animais sociais, a imaturidade representa uma fase de vida importante para a maturação física, motora e social do indivíduo. Entender esse período é crucial para desenvolver planos de manejo eficazes. O macaco-prego-galego (Sapajus flavius) é uma espécie ameaçada, endêmica do nordeste brasileiro, que habita apenas alguns fragmentos de Mata Atlântica e Caatinga. Apesar de um crescente número de trabalhos abordar sua ecologia, descrições mais específicas de comportamentos sociais, principalmente cuidado parental, são escassos. Esse estudo documentou as formas de cuidados aos infantes e juvenis de um grupo de S. flavius vivendo em vida livra em um fragmento de Mata Atlântica. Os dados foram coletados de fevereiro a setembro (exceto agosto) de 2021, resultando em 294,4 horas de contato com o grupo, totalizando 112,6 horas de observação direta (n=1105 focais). Utilizamos o método focal contínuo para coletar comportamentos, com varreduras a cada minuto para registrar o número de vizinhos a cada um e cinco metros, e qual substrato o animal se encontrava. Analisamos se fatores ecológicos como produtividade de fruta, pluviometria, substrato e distância para borda da mata influenciam a forma do cuidado aos imaturos. Também verificamos como esse cuidado muda a depender da classe sexo/etária do imaturo e do cuidador. Em termos de cuidado direto, fêmeas são as principais provedoras, sendo as que carregam os imaturos em 93% dos casos, enquanto juvenis mais velhos e machos adultos carregam bem menos (5% e 2%, respectivamente). Fêmeas também são as principal doadoras de alimento surrupiado em proximidade. Fêmeas carregando filhotes são a classe mais atrativa a outros membros do grupo, sendo as que mais recebem catação e as mais seguidas por outros. Elas são vistas como vizinhas mais do que o esperado em relação a quase todas as classes a um e a cinco metros. Imaturos jovens recebem cuidado direto significativamente mais do que juvenis mais velhos. Machos providenciam principalmente, cuidados indiretos, produzindo restos de alimento para juvenis comerem, tolerando proximidade de juvenis mais novos e mantendo proximidade a fêmeas com filhote. Machos foram vistos como vizinhos de fêmeas com filhote e juvenis 1 acima do esperado (1m: χ²=2167,9, p<0,001, R2adj=12,5 e 7, respectivamente; 20,6; 5m: χ²=2301,2, p<0,001, R2adj=20,6 e 10,8, respectivamente), que pode representar uma forma de proteção contra predadores e infanticídio. O substrato superior não parece ser considerado mais perigoso do que os substratos médio e inferior, visto que cuidados estáticos como catação e amamentação também foram vistos com frequência, mas no chão, esses comportamentos foram vistos pouco ou nenhuma vez. Produtividade de frutas teve uma leve, porém significativa, correlação positiva com frequência de amamentação, mas não com frequência de catação. No geral nossos resultados corroboram com o que foi inferido para essa espécie em termos de cuidado direto aos imaturos, e reforça a existência de intenso cuidado no primeiro ano de vida do imaturo. Nossos dados sobre proximidade indicam que machos podem estar desenvolvendo um papel de proteção importante em acompanhar fêmeas com filhotes ao longo do dia.