Transhumanismo e suas oscilações prometéico-fáusticas: Tecno-apoteose na era da ciência demiúrgica
Transhumanismo; Tradição Prometéica; Tradição Fáustica; gnosticismo tecnológico.
Temos a pretensão, com este trabalho, de analisar o Transhumanismo, movimento filosófico e cultural que anseia a superação da condição orgânica humana em decorrência do exponencial avanço tecnocientífico traduzido em um aprimoramento humano que compreende um amplo espectro da ação humana – tal como a exposição de suas especificidades. Vis-à-vis à um resgate histórico de quais sejam suas raízes ou pontos arquimedianos, asseveramos que o movimento pode ser compreendido em consonância à duas tradições tecnocientíficas, Prometéica e Fáustica, ambas constituídas, à luz da filosofia e sociologia de Hermínio Martins, por traços peculiares. O Primeiro se configura em uma estrutura tecnocientífica impelida pela ideia de que, por meio da razão, podemos modificar o mundo para algo melhor, metamorfoseá-lo ao sabor do bem humano, cujo ponto de culminância é o Humanismo; o segundo exprime um caráter desmesurado, descomedido, uma hybris oriunda da megalomania humana, na medida em que o homem deseja não só suplantar as prerrogativas “divinas”, como também “tornar-se um deus”. Sustentamos, ademais, sob o prisma de Hermínio Martins e Victor Ferkiss, que o movimento ressoa uma espécie de “neognosticismo” ou “gnosticismo tecnológico”, razão pela qual, promove, em certa medida, um salvacionismo transcendente high-tech, em detrimento da pura organicidade que nos é constituinte. Pretendemos também tornar evidente que o movimento Transhumanista não se esgota em termos monolíticos, dado que se expressa em díspares nuances do espectro político, se adequando, trazendo novos eixos de discussão, e mesmo alternativas à dicotomia direita/esquerda. Por fim, ao elucidarmos o exponencial desenvolvimento das ciências demiúrgicas, almejamos estabelecer caminhos para a compreensão clara de que, não obstante o Transhumanismo seja permeado pelo risco de intensificação da injustiça global, pela flexibilização da constituição natural humana em favor de um humano abstrato e, portanto, potencialmente perigoso, o movimento pode ser concebido como uma via para a solução de inúmeros problemas da esfera humana. Os caminhos para a democratização das tecnologias envolvidas no Transhumanismo, os controles governamentais, institucionais, assim como a discussão acadêmica e filosófica acerca dos benefícios e malefícios advindos do movimento, podem, como defendemos, mudar positivamente a condição humana.