A AMBIGUIDADE DO DISCURSO RETÓRICO: CAMINHOS E DESCAMINHOS DA PERSUASÃO (PEITHÓ) COMO INSTRUMENTO PARA A FILOSOFIA NO GÓRGIAS, DE PLATÃO.
Ambiguidade; Persuasão; Retórica; Sócrates; Platão; Górgias.
Esta dissertação expõe um estudo realizado sobre o diálogo Górgias, de Platão, com o escopo de apresentar uma interpretação do mesmo com base na hipótese de que essa obra pode ser lida como uma reflexão sobre a crítica que o autor desenvolve em relação à retórica sofística, ancorada na discussão perpetrada por Sócrates, exortando profusamente seus interlocutores, momento quando o pensador ateniense desenrola sua tese de que a retórica alegada pelos sofistas é uma mera empeiria, produtora de lisonja (κολακευτική). Encontramos indícios de elementos ambíguos reveladores de que, apesar de tecer suas críticas sobre a persuasão (πειθώ) da retórica sofística, Sócrates a reconhece como um requisito essencial para conduzir a sua refutação (ελενκος). Em sua refutação constante, Sócrates vê-se diante de três interlocutores, que se mostram recalcitrantes – Górgias, Polo e Cácicles. Este último irá encetar argumentações regadas de guerra e batalha, como já pressupõe o passo primeiro da obra (447a). Encontramos justificativas para reconhecer o diálogo em seu contexto histórico-cultural, ao observarmos que a Retórica, e seu elemento de persuasão, eram insumos constitutivos da cultura grega, sobretudo com o advento da Democracia, que veio consolidar essa prática como meio educacional. Em relação à narrativa, consideramos que o intuito de Platão é repensar os elementos retóricos e persuasivos dos sofistas a fim de lançar luz, alhures, a uma “verdadeira retórica”, ou seja, a Filosofia. Para isso, Platão faz uma análise da retórica persuasiva, colocando frente ao seu mestre um expoente da sofística, Górgias, reconhecido como um dos maiores ícones dessa área; procura desvelar sua arte (τέχνη), questiona sua função de lisonja e procura alterar as bases dos discursos dos interlocutores. Contudo, o diálogo finaliza sem diálogo, uma vez que não há persuasão ou consenso (Όμολοϒία) de ambos os lados. Consideramos que todos esses pontos serão relevantes para compreendermos a persuasão (πειθώ) como um dos elementos basilares na oralidade grega e da dialética platônica.