Como criar para si um mundo que desaparece?: o desaparecimento em César Aira e Roberto Bolaño
Roberto Bolaño; César Aira; Desaparecimento; Literatura Latino-Americana; Literatura e Política
Roberto Bolaño (1953-2003) e César Aira (1945) são dois escritores latino-americanos que foram contemporâneos, fazendo parte de uma geração que se notabilizou por trazer à literatura da América Latina novas propostas estéticas que buscavam se diferenciar das tendências do Boom dos anos 70. Em seus livros, cujo volume das obras se assemelha pela quantidade de romances e contos, personagens urbanas e traumas advindos dos anos de chumbo no continente se mesclam com profecias apocalípticas sobre o desaparecimento dos corpos e da própria literatura (enquanto instituição e enquanto objeto estético). Nessa tese, a busca por compreender os aspectos desse desaparecimento passa pela procura de seu simbolismo, de seu papel político, de sua discussão contemporânea em um mundo que está em vias de desaparecer, e da própria construção de um universo estético que está desaparecendo, escrevendo a partir do próprio esgotamento. Essas formas simbólicas e éticas de enfrentar o desaparecimento ganham apoio teórico nas reflexões de Blanchot (2005) e Barthes (2005), mas também caminham pela discussão política e filosófica de Fisher (2021), Haraway (2009), Didi-Huberman (2020), e diversos outros autores que auxiliam na construção de uma arqueologia do desaparecimento, que é espelhada na obra dos dois autores enfocados. As ideias em torno desse desaparecimento ganham ressonância nas obras Amuleto (1999), Detetives Selvagens (1988) e 2666 (2006), de Roberto Bolaño, e nos livros Como me tornei freira (1992), Os Fantasmas (1990) e Pequeno Manual de Procedimentos (2007), de César Aira, além dos diversos outros romances e contos dos dois autores, de obra extensa e contínua, seja pelo meio do espólio sempre revisitado, como o de Bolaño, ou pela obra que continua a ser escrita incansavelmente, como a de Aira.