Vozes da criação: relações dialógicas no discurso de construção literária
Discursos de escritores; construção literária; relações dialógicas.
Os escritores, enquanto sujeitos sócio-históricos, conformam seu fazer literário a partir de uma relação concreta com o mundo da vida. Para defender essa premissa, busco analisar discursos de autores potiguares, em que tratam da sua atividade literária. Para isso, tomo como marco teórico a concepção dialógica de linguagem (BAKHTIN, 1998, 2011, 2012, 2013, 2015, 2016; MEDVIÉDEV, 2016; VOLOSHÍNOV, 2013, 2017). Nesse sentido, ocupo-me em: (1) evidenciar vozes sociais nos enunciados dos escritores analisados; (2) problematizar os posicionamentos axiológicos assumidos pelos escritores frente a essas vozes; e (3) cotejar dialogicamente como essas vozes e esses posicionamentos se relacionam com suas práticas de escrita. A construção do corpus se deu a partir de entrevistas realizadas dentro do projeto de extensão Voz e criação: escritores potiguares e seus processos criativos, cujo objetivo foi o de levar a público os processos de construção de textos de escritores norte-rio-grandenses de variados gêneros literários. A investigação possui natureza qualitativa (FLICK, 2009), visto que se realiza em aspectos subjetivos do objeto analisado (enunciados de escritores), e está centrada sob um viés sócio-histórico (FREITAS, 2002). As análises são empreendidas por meio de Análise Dialógica do Discurso (ADD) (BRAIT, 2004), em que a linguagem é vista como uma construção baseada no diálogo entre o eu e o outro, entre interlocutores que se retroalimentam, entre vozes que discutem, se repetem, se conjugam, que se constituem, enfim, no encontro. Até o momento, as análises realizadas apontam para o entendimento de que o exercício literário se alicerça na experiência do sujeito escritor no mundo concreto, nas relações que estabelece axiologicamente com/na vida em toda a sua complexidade, servindo-lhe de substrato para a sua prática literária.