Um Estudo das Práticas de Letramento de Técnicos e Agentes de Pesquisa na PNAD/IBGE
Práticas de letramento no trabalho. PNAD/IBGE. Pesquisa qualitativa. Linguística Aplicada.
Em Linguística Aplicada (LA), as investigações sobre o uso da linguagem em contextos institucionais, diferentes das do domínio pedagógico, começaram a se delinear, sobretudo nas pesquisas de base etnográfica, em meados dos anos 1990. Segundo Moita Lopes (1998; 2011), constituem exemplos de tais pesquisas aquelas ambientadas em contextos profissionais como o jurídico, o da enfermagem hospitalar e o da segurança pública, assinalando o interesse acadêmico pelo modo como as pessoas agem discursivamente ao se utilizarem da leitura e da escrita em situações de trabalho. Tendo por pano de fundo o campo da LA, na acepção ora elucidada, e sua interface com os estudos de Letramento, a presente investigação se constitui de uma pesquisa descritiva, com abordagem de dados qualitativa e traços de vertente etnográfica (MOREIRA; CALEFFE, 2006; BOGDAN; BIKLEN, 2006; CANÇADO, 1994). Seu objetivo consiste em descrever as práticas de letramento em atividades censitárias desenvolvidas por Técnicos e Agentes de Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na realização da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Especificamente, busca conhecer e caracterizar as rotinas letradas atinentes ao contexto de trabalho dos referidos servidores, no sentido de contribuir para a ampliação do foco das pesquisas sobre o Letramento nesse locus em particular e, consequentemente, favorecer uma melhor compreensão de suas ocorrências linguageiras como meio de legitimação do discurso institucional inerente ao domínio censitário. Em termos de abordagem teórica, a pesquisa se baseia nos postulados dos Estudos de Letramento (STREET, 2014 [1995], 1993, 1984; HAMILTON, 2000; KLEIMAN, 1995; ROJO, 2009; OLIVEIRA, 2008; 2010) com ênfase no Letramento Laboral (PAZ, 2008), sob o viés do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999; 2006; 2008; MACHADO, 2005; GUIMARÃES et al., 2007). A partir das categorizações propostas por Hamilton (2000) acerca dos elementos visíveis e não visíveis nos eventos e práticas letradas, as descrições empreendidas têm apontado para a relevância do processo instrucional oferecido pelo IBGE aos seus servidores e também para as recorrentes ações linguageiras orientadas para o convencer, constitutivo ao fazer profissional desses participantes. Essas estratégias discursivas se fazem notar, sobretudo, no trabalho dos Agentes de Pesquisa, cujo grupo está diretamente vinculado ao contexto de vida dos informantes quando das circunstâncias de coleta nos domicílios, figurando, portanto, como porta-vozes institucionais da esfera pesquisada frente à conjuntura social.