Efeito anticonvulsivante de frações isoladas da peçonha da formiga Dinoponera quadriceps
Bicuculina, crises tônico-clônicas, design de fármacos, compostos bioativos, antiepiléticos.
A epilepsia é uma patologia crônica do sistema nervoso central que atinge cerca de 65 milhões de indivíduos no mundo, dos quais cerca de 30% desenvolve uma epilepsia resistente a fármacos. Além disso, os fármacos antiepilépticos utilizados clinicamente provocam diversos efeitos colaterais. Nesse sentido, é evidente a necessidade do desenvolvimento de novos fármacos que possam tratar os casos resistentes e/ou minimizar os seus efeitos colaterais.
Uma fonte de substâncias que podem servir como modelos para o desenvolvimento de novos fármacos são os venenos de origem animal, uma vez que eles possuem alta potência e especificidade por seus alvos moleculares. Dentre os diversos animais peçonhentos, os artrópodes se destacam pelo grande potencial biológico de suas peçonhas, especialmente no que se refere a toxinas com alta afinidade por estruturas moleculares do sistema nervoso. Porém, a maioria dos estudos envolvendo a peçonha dos animais desse filo é de espécies de escorpiões e aranhas, ao contrário do veneno de formigas, onde há apenas poucos estudos sobre seus efeitos biológicos.
Nesse contexto, escolhemos estudar a peçonha da formiga Dinoponera quadriceps, que é uma espécie endêmica na região Nordeste do Brasil. Em um estudo anterior demonstramos que a administração prévia da peçonha desnaturada foi capaz de proteger os animais de crises convulsivas e morte no modelo de convulsões induzidas por bicuculina em camundongos. Assim, o objetivo desse estudo foi testar as diferentes frações obtidas, através de cromatografia líquida de alta desempenho (CLAD), da peçonha da formiga Dinoponera quadriceps para investigar qual (is) possui (am) atividade anticonvulsivante no modelo de crises induzidas por bicuculina em camundongos. A CLAD resultou na separação de seis frações principais que foram injetadas no ventrículo lateral (icv) de camundongos e o comportamento dos animais foi avaliado no campo aberto durante 30 min. Nenhuma das frações testadas alterou significativamente os comportamentos de exploração, auto-limpeza e imobilidade, bem como não houve registro de comportamento atípicos tais como saltos, quedas ou estereotipia.
Quando as frações foram previamente administradas icv em camundongos antes da indução de crises convulsivas por bicuculina observamos que as frações DqTx1, DqTx3, DqTx4 e DqTx6 aumentaram significativamente a latência para o desenvolvimento de crises tônico-clônicas. Além disso, as frações, exceto DqTx5, aumentaram a latência para a morte dos animais. Ainda, todas as frações, exceto DqTx2, foram capazes de proteger os animais do desenvolvimento de crises tônico-clônicas, sendo que a DqTx6 apresentou uma proteção de 62,5% para os animais testados. Bem como, todas as frações protegeram os animais da morte, sendo a DqTx6 a fração que protegeu 100% dos animais.