ANÁLISE DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA MULHERES HORTEIRAS E QUALIDADE DE SONO: ESTUDO OBSERVACIONAL
violência; gênero; rural; mulheres; sono
A violência é um fenômeno conhecido mundialmente e impacta de modo significativo as relações interpessoais e entre grupos. Socialmente apresenta valor subjetivo, sistemático e deflagrador das condições sociais e, deste modo, necessita ser amplamente compreendida, uma vez que acarreta os mais variados impactos biopsicossociais. A investigação da violência doméstica, mais especificamente no contexto rural, reveste-se de importância científica e social, considerando a existência de poucos estudos sobre as relações de gênero vivenciadas por mulheres do campo no Brasil. A mulher vítima de violência doméstica apresenta risco de morbidade psiquiátrica, que está associada a distúrbios do sono. Nesse sentido, este estudo apresenta como objetivo investigar e analisar a frequência de violência doméstica contra mulheres horteiras e sua qualidade do sono. Trata-se de uma pesquisa de caráter exploratório, observacional e descritivo, com abordagem quantitativa. O estudo foi realizado em duas cooperativas de mulheres horteiras, situadas no bairro Paraíso do município de Santa Cruz, interior do Rio Grande do Norte. Para a coleta de dados, foi utilizado ficha de caracterização sociodemográfica das participantes, em seguida, foram aplicados os instrumentos de medida validados no Brasil para rastreio de violência doméstica e para avaliação da qualidade de sono: o instrumento HITS-Brasil, o Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh e a Escala de sono de Epworth. Para análise dos dados quantitativos, foi utilizado o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS). Foi realizada análise descritiva e distribuição de frequência de todas as variáveis categóricas e numéricas. A normalidade da distribuição foi determinada pelo teste de Shapiro-Wilk, para a análise descritiva foi empregado o teste não paramétrico coeficiente de correlação de Spearman. Foi adotado um nível de significância de 5% (p <0,05). A faixa etária das entrevistadas compreende idades que vão dos 25 aos 59 anos, constituíram a amostra 38,1% mulheres casadas e 61,9% outro estado civil, A religião com maior adeptas foi a católica 71,4%, seguida da protestante (23,8%). O grau de instrução prevalente foi o ensino fundamental 66,6%, conferindo, então, baixa escolaridade formal a esta amostra. 61,9% das mulheres declararam possuir renda menor que 1 salário mínimo. 95,2% relataram estar em um relacionamento há mais de 1 ano. 100% das mulheres entrevistadas residem na Zona Urbana. 95,2% atuam nas hortas há mais de 1 ano. Com a aplicação do Instrumento HITS, identificamos que 90,5% das entrevistadas não apresentam indicação de experiência de violência doméstica. Ao analisarmos a sonolência diurna 85,6% apresentaram ausência de sonolência, enquanto que 14,4% apresentaram sonolência diurna excessiva. Com os resultados do índice de qualidade de sono de Pittsburgh verificou-se nesta amostra que, 42,8% classificaram a qualidade de seu sono no último mês como boa, 42,8% classificaram como ruim, enquanto 14,4% apresentaram escore que identifica presença de distúrbio do sono durante o último mês. Durante a análise dos dados, foi verificada correlação entre as variáveis HITS e Epworth (rho=0,547 e p-valor=0,01, teste de Spearman), sendo uma correlação positiva moderada, houve associação entre valores da HITS e valores de Epworth no sentido positivo, ou seja, experiência mais frequente de episódios de violência se associa a maior sonolência diurna. Os instrumentos de medida HITS, PSQI e Epworth não apresentaram associação com a idade, número de dias de trabalho na horta e quantidade de horas trabalhadas (p-valor > 0,05).