CIÊNCIA E A ARTE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: O USO DO TEATRO E DA LITERATURA EM AULAS DE FÍSICA
Educação de Jovens e Adultos; Fontenelle; Viola Spolin; jogos teatrais; ciência e arte.
Inúmeras pesquisas produzidas no campo do ensino de ciências vêm apontando que o diálogo entre ciência e arte pode promover um maior envolvimento, participação e criticidade dos sujeitos envolvidos, uma vez que, pela aproximação cultural, consideram-se os contextos sociais e históricos que podem auxiliar os alunos a construírem uma compreensão mais integral sobre a produção da ciência em nossa sociedade. Desta forma, este trabalho propõe-se a avaliar a contribuição da linguagem teatral, em diálogo com a literatura, para o processo de aprendizagem em ciências, em particular de física, na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A pesquisa, de caráter qualitativo, visa, primeiramente, caracterizar o ensino na EJA e os seus desafios na atualidade, reconhecendo as contribuições de Paulo Freire para essa modalidade de ensino, em particular, sua perspectiva de uma educação humanística, que busca a promoção do ser mais, compreendida como a vocação ontológica do homem e da mulher, em contraposição à concepção “bancária” de educação. Em nosso estudo, percebemos que a linguagem dos jogos teatrais, de Viola Spolin, estabelece um diálogo coerente com as ideias freirianas, podendo auxiliar em uma construção mais crítica, participativa e libertadora do indivíduo da EJA. Na parte empírica da pesquisa, elaboramos e executamos um projeto interdisciplinar envolvendo os professores das disciplinas de física, artes, língua portuguesa e empreendedorismo, e um grupo de alunos da EJA, da Escola Estadual Mascarenhas Homem, por um semestre. O projeto fez uso da obra literária Diálogos sobre a pluralidade dos mundos, escrita no século XVII por Bernard le Bovier de Fontenelle. Essa obra foi um marco em sua época por trazer uma mulher como protagonista, ao mesmo tempo em que era instruída sobre os assuntos mais modernos da Astronomia: o heliocentrismo. A leitura, interpretação e problematização dessa obra resultou na elaboração de uma apresentação, na linguagem do teatro improvisacional de Spolin, intitulada Relatos, de autoria dos estudantes envolvidos. Por meio das vivências no projeto, os alunos foram, gradativamente, encontrando na linguagem teatral uma ferramenta de expressão, pessoal e coletiva, para comunicarem seus entendimentos sobre elementos da Astronomia, como também a respeito de alguns aspectos de nossa sociedade extraídos de suas vivências pessoais.