GREGÓRIO DE MATOS: DO BARROCO À ANTROPOFAGIA
Barroco. Antropofagia. Gregório de Matos. Literatura. Poesia.
A figura exponencial de Gregório de Matos e Guerra tem sido motivo de muitas discussões teóricas ao longo dos anos, desde o seu aparecimento em praça pública, no século XIX, e ainda mais, no século XX, quando foi resgatado pela vanguarda modernista. Resultado disso, ainda existem dois lados antagônicos quando se trata de Gregório de Matos, os que o defendem e os que o acusam. Os primeiros defendem a posição de que o poeta baiano foi a primeira voz literária no Brasil, alçada sob as bases do Barroco, e os outros o acusam de ser ele um mero imitador dos poetas espanhóis do século XVII, sem, portanto, ter contribuído significativamente para a formação da Literatura Brasileira. Esta tese, por sua vez, segue o pensamento daqueles que defendem o poeta como barroco-antropofágico, devorador de culturas, com participação ativa no processo de formação da nossa identidade cultural e literária. Para esse fim, foi feito um rastreamento das biografias do poeta a fim de que muitas das descrições românticas ali presentes fossem desromantizadas dando ênfase aos aspectos biográficos mais científicos que contribuíssem para compor o perfil do poeta barroco. Nesse mesmo sentido, foi discutido o olhar da História da Literatura sobre o poeta mazombo, especificamente observando a posição dos historiadores sobre a poesia gregoriana no cenário da formação da Literatura Brasileira. A fim de defender a hipótese de que Gregório de Matos foi nosso primeiro antropófago, este trabalho procurou observar como seus poemas revelam as características intrínsecas do Barroco e da Antropofagia, com evidência na sua vertente carnavalizante, expondo ao mundo, satiricamente, os interstícios da vida humana. E nesse percurso, a análise do corpus em espanhol é um dos pontos altos da tese porque, além de ser inédita, contribui para a compreensão da antropofagia como mecanismo teórico que explica a formação da nossa identidade literário-cultural. Assim, são convidados para compor a cena teórica Augusto de Campos (1968; 1978; 1984; 1986; 1988), Haroldo de Campos (1976; 2010a; 2010b; 2011), Severo Sarduy ([1988?]), Oswald de Andrade (1945; 1978; 2006), Mikhail Bakhtin (2010), Octavio Paz (1979), Segismundo Spina (1980; 1995; 2008), Afrânio Coutinho (1986a; 1986b; 1994), Affonso Ávila (1994; 1997; 2004; 2008), entre outros. A poesia gregoriana, sob esse aspecto, contribuiu para a composição do cenário barroco-antropofágico em solo brasileiro, com sentido especial para o caráter transtemporal que lhe é dado, uma vez que não está só no Seiscentos, nas amarras da historiografia, mas também está presente hoje na atualidade de seus temas, ancorados pela eterna dúvida do homem barroco.