O aspecto polifônico d'Os Lusíadas
lusíadas, polifonia, poesia, prosa, epopeia, romance.
Estudo sobre o aspecto polifônico d’Os Lusíadas. Poema épico escrito em Língua Portuguesa por Luís de Camões, cujo tema central é a aventura da viagem de Vasco da Gama no descobrimento de novas rotas marítimas para as Índias, narrando, secundariamente, as batalhas históricas travadas no percurso da formação e consolidação do Império Português. O objeto do estudo são os diversos discursos que compõem a narração do poema, examinando a possível relação de influência estilística entre a poesia épica camoniana e a prosa romanesca que se desenvolve na modernidade, a partir de D. Quixote, consagrando-se nos romances polifônicos de Dostoiévski. O estudo enfoca a singularidade de Camões na elaboração de uma narrativa estruturalmente épica, mas que ao mesmo tempo engloba vários discursos desviantes (excursos). Discursos esses que revelam a multiplanaridade e a plurivocalização (características da prosa romanesca) sem, contudo, prejudicar o encadeamento lógico-formal da epopeia, resultando no acabamento monológico canônico do gênero épico. Este aspecto caracteriza Os Lusíadas como uma obra monológica, mas que deixa transparecer traços de dialogismo e de plurilinguismo essenciais ao fenômeno polifônico. Outro aspecto relevante da poética camoniana, ressaltado no presente estudo, é o procedimento relativo à expressividade das personagens. As personagens-narradoras do poema são, na maioria, criações discursivas ou retóricas, as quais assumem, no discurso, características humanas ou mitológicas. Artifício que permite ao poeta apresentar uma visão multifacetária dos fatos narrados. A análise dos discursos apoia-se inteiramente na teoria polifônica de Mikhail Bakhtin, citando, acessoriamente, pontos de vista de outros teóricos, à medida que se julgam compatíveis com a teoria adotada.