A relação gramatical objeto direto: implicações para o ensino de língua materna
Estrutura argumental, objeto direto, protótipo, ensino de língua
Este trabalho tem por objetivo investigar as manifestações discursivas da relação gramatical objeto direto, tomando por base os níveis sintático-semântico e discursivo-pragmático que subjazem à manifestação desse elemento. Para isso, a pesquisa é orientada pelo quadro teórico do funcionalismo, na sua vertente norte-americana e brasileira, de inspiração em Givón (1995, 2001), Hopper e Thompson (1980), Chafe (1979), Furtado da Cunha, Oliveira, Martelotta (2003), entre outros. Do ponto de vista dessa corrente teórica, a pesquisa aplica os princípios de iconicidade, marcação e informatividade, e examina as categorias transitividade, plano discursivo e animacidade. A pesquisa se ancora, ainda, na linguística cognitiva, em especial, no modelo dos protótipos (TAYLOR, 1995) e da gramática das construções (GOLDBERG, 1996, 2002). Essas duas correntes teóricas compartilham a visão de que a língua é um organismo vivo e maleável, sujeito às pressões oriundas dos contextos socioculturais. A gramática, por sua vez, é o resultado de padrões linguísticos criados, mantidos e sistematizados no e para o uso da língua. De acordo com a linguística funcional e a linguística cognitiva, os verbos são armazenados no léxico do falante em molduras, ou enquadres sintático-semânticos, que são mais frequentes no uso interacional da língua. Essas molduras trazem informação sobre que argumentos são obrigatórios e quais são opcionais, bem como que papéis semânticos esses argumentos desempenham na oração. A análise prioriza os tipos semânticos de verbo e sua relação com o argumento codificado sintaticamente como objeto direto, observando, ainda, a natureza aspectual dos verbos. Os objetos diretos são classificados quanto à codificação morfológica (Sintagma Nominal lexical ou Sintagma Nominal pronominal), papel semântico, status informacional e animacidade. O trabalho busca estabelecer uma ponte entre teoria linguística e ensino de língua, na medida em que examina os fenômenos relacionados à estrutura argumental e a maneira como esses fenômenos são tratados no âmbito dos livros didáticos escolares. A fonte dos dados empíricos é o Corpus Discurso & Gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal (FURTADO DA CUNHA, 1998), composto por textos na modalidade falada e seus correspondentes na modalidade escrita, que se configuram em diferentes tipos, a saber: narrativa de experiência pessoal, narrativa recontada, descrição de local, relato de procedimento e relato de opinião. As amostras totalizam um conjunto de quarenta textos produzidos por quatro informantes do último período universitário. O trabalho evidencia que uma mesma estrutura sintática (formada por Sujeito – Verbo – Objeto) corresponde a diferentes estruturas semântico-pragmáticas, relacionadas a determinados fins comunicativos, seja o verbo de evento, processo ou estado. Essas estruturas argumentais não são aleatórias, mas estão relacionadas à experiência, isto é, ao modo como os seres humanos apreendem o mundo e falam sobre ele.