UM FAROL NO MEIO DO SERTÃO: LITERATURA FÂNONE E CLUBES DE LEITURA DO IFRN COMO ARTICULADORES DE TECITURAS POLIFÔNICAS
Comunidades de leitores. IFRN. Cidade. Polifonia. Identidade.
Este trabalho intenta reconhecer o processo de construção identitária resultante da participação de sujeitos em comunidades de leitores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), localizadas no interior do estado. Assim, parte-se da concepção de que a prática da leitura, mesmo quando solitária, envolve uma série de negociações entre leitor, autor, personagens e os planos de fundo sociais que os envolvem, transformando essa prática em uma atividade de caça (CERTEAU, 2014) e evidenciando a natureza dialógica dos enunciados, como proposto por Bakhtin e seu círculo de pensadores. Ao observar o processo de leitura nas comunidades de leitores IFRN, o fenômeno ganha capilaridade ao perceber o contexto dos sujeitos envolvidos nessas práticas, uma vez que quando estão na condição de moradores de cidades do interior estão mergulhados em uma realidade particular que, muitas vezes, podam suas possibilidades de identidade. Assim, a leitura para muitos estudantes é uma forma de ver e performar – de forma ficcional – aquilo que eles mesmo são, mas não podem falar sobre ou não possuem referências disso no meio em que vivem. Para compreender esse embate que evoca vozes dos sujeitos leitores, dos heróis das obras lidas, dos que compõem o corpo da escola e, por fim, dos que formam as cidades e regiões em que o IFRN se localiza, é fundamental a discussão em torno da polifonia (BAKHTIN, 2008) para compreender como essa multiplicidade de vozes em equipolência constrói e reconstrói as identidades dos sujeitos que passam por esse processo. Na tentativa de compreender esse processo, serão realizadas entrevistas com doze pessoas envolvidas nesse processo, sendo nove ex-alunos participantes de comunidades de leitores do IFRN, e três professores que estiveram envolvidos nesses projetos. Esses relatos serão transformados em texto escrito e, a partir do processo metodológico das micro-histórias (GINZBURG, 2006) e, ancorados nas teorias de Bakhtin e do Círculo, sobretudo no que compete à polifonia, problematizaremos as implicações dessas comunidades de leitores para a construção identitárias dos sujeitos nela envolvidas. Para ancorar essa discussão, teorias que dialogam sobre a hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004), corpo (LOURO 2016), leitura (PETIT, 2010) e regionalidade (RIBEIRO, 2006) foram essenciais para situar os sujeitos. Além disso, concepções que tiram a polifonia de sua visão ortodoxa (ALEKSIEVITCH, 2016; CANEVACCI, 2004) promoveram caminhos teórico-metodológicos mais adequados para esta pesquisa.