OS LABIRINTOS DISCURSIVOS DA MODERNIDADE NOS CRONOTOPOS FICCIONAIS DE JORGE LUIS BORGES
Cronotopo. Modernidade. Jorge Luis Borges. Literatura fantástica.
Não dá para falar sobre Jorge Luis Borges sem mencionar três palavras: tempo, espelhos e labirintos, isso porque o escritor não só trabalha esses elementos em suas obras por meio de uma forma neofantástica, como incorpora as discussões que esses elementos trazem para leitura de sua época, a partir de um jogo com o espaço-tempo no cerne de seus contos. Nessa articulação entre forma neofantástica e um conteúdo trazido do contexto histórico no qual se insere, a expansão do real duplica as referências geográficas e expande-as, em busca de uma compreensão de seu próprio tempo. Nosso objetivo geral nesta tese é, portanto, investigar os labirintos discursivos da modernidade nos cronotopos ficcionais das narrativas borgeanas, para compreendermos como esses procedimentos e intercâmbios, entre o real e o ficcional, são realizados e, de como estes se articulam, por vezes, com os discursos sobre o processo de modernização na América Latina. Para isso, tomamos como metodologia as discussões trazidas por Mikhail Bakhtin acerca dos estudos sobre estética e literatura, com foco nos textos “O problema do conteúdo, do material e da forma”, em seu livro Questões de literatura e de estética (2014) e, nas suas reflexões sobre espaço-tempo na obra literária As formas do tempo e do cronotopo (2018). Assim, dividimos nosso trabalho em três etapas ou objetivos específicos: identificar como os cronotopos ficcionais se articulam com as tipologias do fantástico; examinar como essas formas fantásticas servem de base para um neofantástico borgeano; analisar a composição dos crontopos ficcionais na prosa neofantástica de Borges, a partir de alguns contos dos livros Ficciones (1944) e El Aleph (1950). Nesse caminho de investigação, aliamos as discussões históricas sobre o contexto da modernidade na América Latina, a partir de Júlio Pimentel Pinto (1998), Beatriz Sarlo (1995), Octavio Paz (2014), Erik Hobsbawn (2018), Marshall Berman (2007), a como essas discussões entram e são trabalhadas na obra literária, refletindo sobre as formas fantásticas a partir de Tzvetan Todorov (1981) e Jaime Alazraki (1990), com foco na obra de Jorge Luis Borges, estudada por teóricos como Daniel Balderston (1993), María Barrenechea (1984), Emir Rodriguez Monegal (1980), Beatriz Sarlo (1995). Tais escolhas são importantes para compreendermos como a refração de determinados discursos se vinculam por meio de um material e uma forma, na criação dos cronotopos ficcionais borgeanos, espacializando discussões importantes sobre a memória cultural argentina e sobre a ambivalência discursiva na modernidade.