PONTOS DE VISTA E RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA EM REDAÇÕES DO PROGRAMA JOVEM SENADOR
Ponto de Vista. Responsabilidade Enunciativa. Redação
Investigamos, nesta pesquisa, Pontos de Vista (PDV) e Responsabilidade Enunciativa (RE) em redações escritas por estudantes do ensino médio de escolas públicas que participaram do Concurso de Redação do Senado Federal, que é uma ação do Programa Jovem Senador. Analisamos textos correspondentes às edições 2016, 2017 e 2018 do certame, com o objetivo de: 1) identificar fontes enunciativas e PDV mobilizados pelos estudantes quanto à construção da argumentação; 2) descrever e analisar marcas e/ou mecanismos linguísticos utilizados pelos estudantes no que concerne a (não) assunção da RE na argumentação; 3) interpretar como o fenômeno da RE colabora para a construção de PDV pelos estudantes na argumentação. Para alcançarmos esses objetivos, recorremos teoricamente à Linguística do Texto, particularmente à Análise Textual dos Discursos (ADAM, 2011) e à Linguística Enunciativa, para tratarmos de conceitos concernentes aos PDV e RE discutidos por Rabatel (2003, 2005, 2009, 2010, 2016a, 2016b, 2017), Guentchéva (1994, 2011, 2014), Rodrigues (2016, 2017) entre outros. Apoiamo-nos, também, em Cabral (2010, 2017), Pinto (2010), Adam (1997, 2019) e Koch (2008), além de outros teóricos, para discutir a Argumentação, tanto na perspectiva Linguística, como na Textual. Esta investigação é de natureza qualitativa e apoia-se em parâmetros da pesquisa quantitativa, a qual foi desenvolvida sob a abordagem da pesquisa bibliográfica e documental e o método indutivo. Metodologicamente, nos ancoramos em Bogdan e Biklen (1994), Bauer e Gaskell (2002), Goldenberg (2004), Gil (2010a, 2010b) e Oliveira (2010). A partir da análise do corpus, concluímos que: a) os estudantes expressaram textualmente fontes enunciativas diversas, com recorrência do que denominamos de fontes físicas, que correspondem a argumentos de autoridade; b) quanto às marcas linguísticas que indicam a (não) assunção da RE, verificamos que os estudantes introduziram enunciados das fontes enunciativas através de verbos dicendi, de outros verbos relacionados ao ato de enunciar, de formas nominais de verbos e de locuções conjuntivas conformativas; c) quanto ao gerenciamento de vozes, compreendemos que os estudantes recorreram à introdução do discurso do outro nas redações para reforçar/validar/sustentar/construir PDV na argumentação a partir dos seguintes movimentos: i) acordo, quando trouxeram os PDV de outros para juntar-se aos seus; ii) acordo em parte, quando mobilizaram os PDV de outros e acrescentaram a eles informações convenientes; e iii) desacordo, quando refutaram os PDV de enunciadores segundos para construir os próprios PDV. A partir da análise dos dados, concluímos que a imputação dos enunciados a enunciadores segundos pelo locutor enunciador primeiro corresponde a um processo interacional complexo, tendo em vista que esse locutor, mesmo distanciando-se dos PDV atribuídos a outro, sustenta-se neles para posicionar-se; nisso ele direciona argumentativamente os enunciados, bem como constrói a argumentação.