Construção da identidade e da alteridade dos guianenses em A escravidão contada à minha filha, de Christiane Taubira-Delannon
Literatura Pós-colonial. Guiana Francesa. Christiane Taubira-Delannon. Escravidão. Alteridade;
O lugar que a literatura de expressão francesa, em particular guianense, ocupa no contexto brasileiro é quase inexistente. Existe uma penúria de artigos científicos, de traduções de obras, de estudos literários. Ora, o debate sobre o colonialismo e o pós-colonialismo do século XX ocupa pensadores de diversos países, como Homi Bhabha (1949), Edward Saïd (1978; 1995) e Gayatri Spyvak (1985). Escritores das Antilhas, como Frantz Fanon (1952) e Edouard Glissant (1981), discorreram sobre o colonialismo e o pós-colonialismo, fundando a base e a prática teórica nos estudos literários pós-modernos. De acordo com Glissant (1981), a obra literária, em seu campo de aplicação mais vasto, pode ter duas funções. A primeira é de “desmontar as engrenagens de um dado sistema”, para expor e desmistificar os mecanismos escondidos. A segunda complementa a primeira reunindo as comunidades em torno de seus mitos, crenças, fantasia ou ideologia, destacando suas contribuições. É neste contexto que Christiane Taubira-Delannon escreveu, em 2002, o livro L’esclavage raconté à ma fille. O presente estudo visa verificar os procedimentos utilizados pela autora para romper o processo de representação dos negros enquanto atrasados, incivilizados, inferiorizados, odiados, intoleráveis, que a literatura colonial elaborou durante séculos, além de analisar o contra-discurso literário que permite desconstruir essas imagens veículadas ao longo da história, com o pensamento crítico podendo desmistificar essa representação social negativa a fim de contribuir com a (re)valorização individual e coletiva no cotidiano guianense. O texto literário participaria, portanto, de uma tomada de consciência do lugar do sujeito em sua própria história e na (re)construção de sua alteridade na miscigenada sociedade guianense.