CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DE ESCOLAS DE SAMBA A PARTIR DOS SAMBAS-EXALTAÇÃO: UMA PERSPECTIVA BAKHTINIANA
Enunciado. Identidade cultural. Escolas de samba. Samba-exaltação. Signo ideológico.
Há mais de um século, o desfile das escolas de samba continua surpreendendo o grande público, resistindo às cobranças, à mercantilização da cultura e às infindáveis mudanças em sua estrutura organizacional. Assim como qualquer outra instituição cultural, está em constante transformação para se adequar à nova realidade e às exigências do público que deseja sempre ser surpreendido por um grande espetáculo. Diante da proporção que a festa carnavalesca tomou e de todas essas transformações dentro e fora do universo do samba, as escolas de samba são pressionadas a se afirmarem ou até redefinirem suas identidades culturais. Apropriando-nos dessa discussão a respeito do universo do samba, este estudo objetiva analisar como as escolas de samba do Rio de Janeiro se constroem identitariamente a partir dos seus sambas-exaltação. Para tanto, partimos do pressuposto de que essas canções, assim como os hinos nacionais, são propagadores ideológicos de modos de pensar e constitutivos de identidades da agremiação e da própria comunidade. Os sambas-exaltação, também conhecidos como hinos de exaltação, são constitutivos na construção e na afirmação da identidade dessas instituições culturais. São gêneros discursivos que atuam na elevação da autoestima da comunidade participante e desenvolvem um sentimento de pertencimento. A pesquisa insere-se na área da Linguística Aplicada por ser um campo teórico que entende a linguagem como prática social e ancora-se no modelo sócio-histórico da linguagem, entendendo-a como prática discursiva (Círculo de Bakhtin). Ainda no campo teórico, estabelecemos uma interconexão com os estudos culturais (Hall, Canclini), considerando que a cultura constrói valores, produzindo diferenças em função de suas condições de produção. As escolas de samba analisadas foram as três com o maior número de títulos até 2018: Estação Primeira de Mangueira, Grêmio Recreativo de Nilópolis e Beija-Flor de Nilópolis. As análises indicam que o processo de construção identitária das escolas de samba é semelhante ao encontrado nos hinos nacionais. As escolas de samba afirmam sua identidade por meio da marcação simbólica pela valorização: de um autêntico passado de glórias; da bandeira e das cores da escola; das tradições e valores; da natureza ou do bairro onde a escola está localizada; de palavras de amor e devoção à “terra amada” que a comunidade deve desenvolver pela escola; da sensação de felicidade; da identidade feminina; da identidade religiosa; e do lugar de samba.