A Ruptura das Máscaras e das Tradições em Lavoura Arcaica
Lavoura Arcaica, Raduan Nassar, Desejo, Amor, Devir.
Ao introduzir as concepções teóricas de Deleuze e Guattari (2011a) sobre os signos rizomáticos do desejo como um processo ocasional da linguagem, eventualidade ou virtualidade, manifestando-se em meio à multiplicidade das afeições, afetando os corpos, misturando-os, a presente pesquisa instaura discussões sobre a problemática das ações-paixões, como agenciamento de linguagens enquanto máquina literária desejante, na obra Lavoura Arcaica (2009), de Raduan Nassar. Ancorado a esse universo afetivo, também abordaremos o espaço das minorias que, ao mesmo tempo, confronta e não-confronta a estrutura instituída, tradicional, possibilitando, mesmo com essa dualidade, uma abertura às vozes excluídas, ao revelar as imagens do devir de cada membro da família representada na narrativa e provocar, em todos eles, a desterritorialização junto aos microssistemas político-sociais impostos como subordinação patriarcal castradora; e ao ressignificar seus sentidos, reterritorializando-os, introduzindo o amor como mecanismo de linguagem e de pensamento, em um regime que afeta e desconstrói as máscaras, as representações burguesas do desejo, do amor e do erótico. Em confluência com o contradiscurso rizomático gerador de devires inesperados e insuspeitos dos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari e da literatura do autor brasileiro, estendemos nossas análises juntamente à teórica de outros pensadores pertinentes ao tema da pesquisa. Considerando as afinidades entre saberes como literatura, estética e filosofia, a ficção de Raduan Nassar, conforme Deleuze (2011b), não se restringe às constantes do logocentrismo e de sua voz despótica, e se estende às variações, fazendo “Gaguejar a língua, ou fazê-la ‘piar’, e extrair daí gritos, clamores, alturas, durações, timbres, acentos, intensidades, amor”.