Punhal, Capote e Sombreiro: recepção e ressignificação do mito de Don Juan na poética de Castro Alves
Castro Alves, Don Juan, recepção literária, gótico, fantástico.
O presente trabalho tem por disposição estudar a feição assumida do mito literário de Don Juan em algumas composições da obra literária de Castro Alves com destaque às produções realizadas em prosa: “Pesadelo” (1863), “Crônica Jornalística” (1864) e “Don Juan ou a prole dos saturnos” (1869). O mito de Don Juan na produção artística do poeta baiano suscita questionamentos ainda hoje não claramente resolvidos. A fim de melhor compreender as manifestações do repisado motivo do sedutor espanhol na obra do romântico brasileiro, pretendemos traçar uma linha de análise direcionada à pesquisa histórica dos empréstimos literários em suas transformações assentidas pelo impulso criativo do escritor. Revisitando a fortuna crítica de Castro Alves, nos trabalhos de Haddad (1953), Gomes (1997), Ferreira (1947), entre outros, encontramos lacunas ainda não preenchidas a propósito da editoração de seus textos e de atribuição de trabalhos que não lhe são autorais, implicando direta ou indiretamente na maneira como o pesquisador dá entrada à leitura dos motivos poéticos em sua obra. Desta forma, investimos para este estudo numa pesquisa de crítica genética e recepção textual a fim de reavaliar o espólio de sua obra e reconfigurar a imagem tradicionalmente consentida por seus críticos mais influentes no tocante ao motivo literário de Don Juan. Pondo em evidência as experiências de leitura praticadas nos círculos culturais acadêmicos por onde o poeta atuou, como Recife e São Paulo, recuperando uma dominante esquecida de sua produção literária, a saber, o culto do fantástico e do gótico, propusemos analisar, entre poemas mais antologiados e consagrados do escritor baiano, como “Os três amores” e “Adormecida”, textos igualmente sobre os quais ainda não se atraiu a atenção dos estudos castroalvinos. Intentando o estudo comparativo da célebre narrativa do sedutor espanhol com o nosso corpus delimitado, procedemos também à apresentação da evolução do mito desde o seu estabelecimento textual literário com Tirso de Molina, seguido de perto pelas recriações de Molière e Mozart nos séculos XVII e XVIII, até a expansão alcançada pelos românticos.