Para Além do Drama: Tensão entre a palavra e o gesto em Clarice Lispector
Drama. Gesto. teatralidade. Literatura. Mimesis. Diégese.
O drama, gênero literário que faz parte da concretização das artes do espetáculo, provoca, desde as suas origens, limites disciplinares. Assim, por sua condição fronteiriça, de texto fruto que norteia a cena, o drama se constitui como objeto transdisciplinar, ainda quando focalizado sob a ótica literária. A literatura de Clarice Lispector apresenta-se como uma ficção que dá margem à representação simbólica, destacando indícios do drama, pois as personagens dos contos de A Via Crucis do Corpo (1998) se veem diante de situações conflitivas, na busca do seu eu. Considera-se relevante discutir com mais atenção essa obra. A presente pesquisa se detém na observação de metáforas que indiciam o jogo entre mimesis/diegese no diálogo, que ora se dá de forma monológica, ora dialógica, e por vezes no discurso do solilóquio. Toma-se, como fundamentação teórica, as reflexões de Sarrazac (2012), para compreender o drama moderno e contemporâneo, Szondi, que retrata sobre a crise do drama, Artaud para entender a diferença de posicionamentos do que seja o teatro, ou melhor, a modernização deste, Nunes (1989), que discute sobre o drama da linguagem em Clarice Lispector, Stanislavski (1983), que pontua sobre a construção do personagem, entre outros. Dentro dessa proposição teórico/crítica, buscou-se analisar a dramaticidade das personagens na construção de seus discursos, por meio de fragmentos dos contos da obra já citada de Lispector, atentando para dar respostas aos nossos questionamentos: até que ponto as questões do drama revelam, através dos gestos, a tensão dramática no estilo da autora. Dessa forma, seria possível pensar a literatura de Clarice como espaço de tensão entre o diegético e o mimético? Pode o espaço de enunciação do discurso se configurar como espaço de encenação ou de uma cenografia da palavra através do gesto? Essas indagações contribuíram para perceber que as narrativas estudadas e os fragmentos transitam entre a palavra e o gesto, em uma perspectiva mimética e diegética. Procurou-se, ainda, contribuir, a partir dos postulados teóricos estudados para o entendimento da importância do gesto no universo clariceano.