Luciene Carvalho e a poética da existência
Hipermodernidade; Performance; Poeta-performer; Erotismo; Continuidade; Loucura.
Este trabalho tem por objetivo a leitura crítica da obra poética de Luciene Carvalho, a partir do contexto da hipermodernidade. Para tanto, debruçamo-nos sobre seus textos numa perspectiva dos Estudos de Performance. Realizamos, assim, uma reflexão – a partir de estudiosos tais quais Gilles Lipovetsky e Zygmunt Bauman – sobre a hipermodernidade, apontando para ela como uma sucessão da pós-modernidade e que tem início em meados da década de 1990. Nessa perspectiva, compreendemos que esse momento surge como uma nova era (talvez a era das subjetividades) e dos novos paradigmas. Procuramos com o presente trabalho demonstrar que num espaço de significativa relativização das verdades que moldavam as sociedades e repercutiam nos sujeitos, tornou-se imprescindível que diversas formas de significação do sujeito, em cenários idiossincráticos, são erigidas. Dessa maneira, tanto o estatuto de autor foi transformado, uma vez modificado seu modo de atuação, quanto as formas gerais do sujeito ser/estar no mundo. É nesse contexto de multifacetação que a poeta-performer Luciena Carvalho optará por uma atuação para além do modo clássico de relação com a escritura e suas performances. A performance da autora parte da escrita como uma experiência (corpórea) sobre a qual se inscreve múltiplas textualidades. Ao metamorfosear a si mesma, por sua vez, a poeta-performer se atrela às personas, muitas vezes, entendidas como esvaziadas de sentido. O corpo-texto nesse contexto assume os contornos da loucura e do erotismo, ressignificando os espaços institucionais do poético. Conforme teorizou Bataille, trata-se do erotismo como um substituto da religião na busca de alcançar a continuidade em um tempo em que as verdades metafísicas estão enfraquecidas. Nesse sentido, a loucura da qual a autora também se utiliza complexifica seu repertório de performação em ambiente de confusa configuração. A loucura e seus desdobramentos funcionam, dessa forma, como pontos de conexão e justificam as metamorfoses de um sujeito que busca imbricadas formas significar para o mundo a sua existência.