A construção modalizadora FICAR DE + INFINITIVO sob a ótica da LFCU
Construção modalizadora. Linguística Funcional Centrada no Uso. Gramática de Construções.
Neste trabalho, investigamos a construção modalizadora Ficar de + INFINITIVO, com vistas a caracterizá-la funcional e formalmente, considerando aspectos estruturais, semântico-cognitivos e pragmáticos implicados nas instâncias de uso. Para tanto, ancoramo-nos nos pressupostos da Linguística Funcional Centrada no Uso, tal qual caracterizaram Furtado da Cunha, Bispo e Silva (2013), conjugados aos da Gramática de Construções, defendida por pesquisadores como Goldberg (1995), Croft (2001) e Traugott e Trousdale (2013). Em termos metodológicos, a pesquisa apresenta viés eminentemente qualitativo, calcada em suporte quantitativo e possui natureza descritivo-explicativa. O banco de dados é composto de ocorrências retiradas do site Reclame Aqui, cujo contexto se mostrou bastante favorável à ocorrência de construtos da construção sob enfoque. À guisa de resultados, verificamos que, nessa construção, ficar perde as propriedades de verbo pleno, predicador, passando a atuar como auxiliar, além de poder ser usado em diferentes tempos e pessoas verbais, a exemplo de ficou de enviar, fica de retornar etc. Em relação aos aspectos semânticos, apresenta pouca restrição quanto aos tipos de verbo recrutados para ocupar o slot de INFINITIVO e seu uso está ligado às noções de modalidade em seus aspectos deôntico e/ou epistêmico. Por fim, no tocante às motivações cognitivas e pragmáticas, observamos que o uso da construção em estudo se relaciona a questões de subjetividade e de intersubjetividade no sentido de que expressa a atitude do falante quanto ao que diz (se tem certeza ou não, por exemplo) e quanto aos efeitos de sentido que pretende construir e/ou aos propósitos comunicativos que se quer alcançar (persuadir o interlocutor, atribuir a terceiros um dado comprometimento, cobrar uma ação de empresas/prestadores de serviço etc.).