O DISCURSO DO HUMOR GAY NA MÍDIA DIGITAL
Humor Gay; Grotesco; LGBTT; Performatividade de Gênero; Análise do Discurso.
Nesta pesquisa, analisamos a produção LGBTT de efeito humorístico na mídia digital, em canais de humor gay do YouTube, enquanto discursivização das forças centrífugas e centrípetas homonormativas. O humor gay, dos canais pesquisados usa a carnavalização (força centrífuga) como técnica de humor para gerar rupturas (resistência e transgressão) no discurso homonormativo (discurso midiatizado especialmente na teledramaturgia), que se apresenta como hegemônico por ser uma mimese do discurso heteronormativo. Enquanto a teledramaturgia tem midiatizado o discurso homonormativo (casais de gays felizes, bem casados e bem sucedidos, constituindo família através da adoção etc.) para gerar o efeito de aceitação social por semelhança com o discurso heteronormativo (que por sua vez tem semelhanças com o discurso patriarcalista, pró-família tradicional, anti-relacionamento aberto, contra a sexualidade livre e não normatizada), os canais de humor gay têm recorrido ao grotesco e à carnavalização para resistir e transgredir ao discurso homonormativo e também para deslocar das margens para o centro os sujeitos LGBTT que não se guiam homonormativamente. Nossa pesquisa tem evidenciado que esse tipo de produção humorística se vale de uma linguagem codificada (Pajubá, Bajubá ou Bichês) e que evoca práticas sociais e construções simbólicas do cotidiano, do subjetivo e do identitário gay, não raro tornando-se essa produção linguístico-imagético-humorística opaca e inacessível em seus efeitos de sentido humorístico para outros grupos sociais, não gerando o riso pela ausência neles de certos saberes e memórias (POSSENTI, 2009). O discurso do grotesco aqui também foi identificado, constituindo uma parte significativa do corpus analisado: 15 vídeos extraídos dos canais de humor gay Bicha Melhore, Põe na Roda, Laranjas Bahia, MTV Comédia (única exceção, pois não se trata de um canal gay). Para tratar deste discurso em particular, utilizamos as proposições sobre o grotesco de Mikhail Bakhtin (1999a), Muniz Sodré e Raquel Paiva (2002), Wolfgang Kayser (2003) e Mary Russo (2000). O grotesco e a carnavalização (força centrífuga) funcionam como procedimentos e técnicas de humor, colocando-se contra as representações do discurso homonormativo. A análise das condições de possibilidade (FOUCAULT, 2006) desse humor nos foram de grande importância e acuidade, bem como a discussão da performatividade de gênero da filósofa norte-americana Judith Butler e seu respectivo viés no que concerne às relações de gênero e de poder, num prisma foucaultiano, levando-se em consideração a fabricação das subjetividades e identidades, como também o exercício da resistência e da transgressão. Para a realização dessa investigação, apoiamo-nos sobre a base teórico-conceitual e metodológica da Análise do Discurso de filiação francesa.