A CONFISSÃO DO SILÊNCIO: VOZES FEMININAS, ORALIDADE E ANCESTRALIDADE EM PAULINA CHIZIANE
Paulina Chiziane. Literatura moçambicana. Vozes femininas.
A produção literária africana aponta para um espaço de transformações históricas e culturais revisitando, de forma crítica, suas tradições orais e os processos de colonização que silenciou e dilacerou o projeto identitário de suas nações. Estes espaços fronteiriços fazem emergir novas vozes que trazem à tona a valorização das margens como contribuição para a desconstrução da noção de centro na literatura, além de um novo sentido à visão dos marginalizados. Nessa perspectiva, pensamos a multiplicidade das vozes femininas da escritora moçambicana Paulina Chiziane, considerada uma das primeiras escritoras moçambicanas em língua portuguesa a publicar romance, que, por meio da predominância de personagens femininas em suas obras, atribui um novo sentido à condição da mulher na literatura e na história de Moçambique. Este trabalho apresenta uma análise do livro Niketche: uma história de poligamia (2004)investigando de que forma se manifesta o discurso feminino da narradora protagonista na trama, e como, a partir disso, a voz e a escrita tornam-se elementos de subversão e de resistência diante da condição de subalternidade da mulher pela literatura. No modo como constrói sua ficção, a autora encontra formas de representar a nação moçambicana, celebrando as diferenças culturais e envolvendo pensamentos acerca da condição da mulher no universo de Moçambique, lugar em que o feminino encontra-se sitiado pelos efeitos de um conflito que ainda está para ser vencido: a colonização do pensamento que influencia os comportamentos humanos. Para fundamentar as nossas análises, utilizamos teorias relativas à crítica literária de cunho culturalista como os escritos de Gayatri Spivak, Homi K. Bhabha, Frantz Fanon, e Michelet Perrot. Tecemos as nossas interpretações concernentes à narrativa da autora, levando em conta os discursos ficcional, histórico e cultural e estabelecendo ligação com a categoria analítica escolhida: o discurso feminino de suas personagens.