PERCEPÇÕES DA METAMORFOSE DO SER : DE IAUARIARA A IAUARETÊ
Guimarães Rosa, Metamorfose, Comparação Diferencial.
Pensar sobre a narrativa da transformação física de personagens, para nós, é refletir sobre o sujeito e sua subjetividade, sobre o ser mutável e mutante e sobre o seu processo de compreensão de si no mundo. Neste trabalho pretendemos refletir sobre a transformação do personagem principal da novela “Meu tio o Iauaretê”, de João Guimarães Rosa, de 1961, publicado pela primeira vez na revista Senhor, e posteriormente incluído na coletânea póstuma Estas Estórias, em 1969, e compará-la com outras transformações de personagens de textos diversos, com destaque para Gregor Samsa, personagem da novela Metamorfose (Die Verwandlung), de Franz Kafka, e Aracne, personagem do livro VI das Metamorfoses (Metamorphoses) de Ovídio. Buscamos observar as percepções do ser em sua mudança física e/ou psicológica. Em nosso estudo tentaremos nos aproximar das reflexões de Heidegger (2013) sobre o ser-aí e do Corpo sem Órgãos (CsO) na perspectiva de Deleuze e Guatarri (1997), nos detemos na observação de trechos/cenas em que os personagens apontam para possíveis compreensões de si e dos outros antes, durante e após a transformação. Entendemos os textos alvo de nosso estudo em uma perspectiva semiótica (SANTAELLA, 2007), e utilizamos como método a Comparação Diferencial desenvolvida por Ute Heidmann, desta maneira, buscaremos compreender os textos enquanto discurso (Heidmann, 2010), considerando a dinâmica da realização dos textos. Para auxiliar a nossa leitura, ainda consideraremos as reflexões de Barthes (2003) no que diz respeito à relação humana na negação da adjetivação. Os espaços físicos em que as transformações ocorrem também serão alvo de nossa investigação, e nesta perspectiva, o ser em transformação se afirma a partir da ocupação deste seu novo lugar psicológico, durante a ocupação reterritorializada de seu antigo espaço físico, de forma que não se encaixa no comportamento “humano”, nem no comportamento da figura “não-humana” por ele experimentada. Na novela de JGR esta busca e afirmação podem ocorrer para além da fala do ser, ao mesmo tempo em que a linguagem se transforma em uma ferramenta de construção desse novo sentido que extrapola o “humano” na busca do ser e na afirmação de si em seu território.