MURILO RUBIÃO E A POÉTICA DO ESTRANHO: AS FRONTEIRAS DO DISCURSO FANTÁSTICO E ENGAJAMENTO NA ESCRITA
Narrativa, fantástico, discurso.
A literatura, enquanto representação social, possui várias vias de criação. Dentre elas, destacamos a literatura fantástica que distancia-se da lógica da realidade para evidenciar as contradições da sociedade moderna. Até mesmo a literatura classificada como realista, em certos casos, também faz concessões aos procedimentos fantásticos para questionar as relações humanas. Nesse sentido, esta dissertação analisa os contos “A cidade”, “Bárbara”, “O ex-mágico da Taverna Minhota” e “Botão-de-rosa”, do escritor mineiro Murilo Rubião. Nos contos de Rubião, está presente o efeito de desautomatização provocado pelo contato com o absurdo, mas este procedimento tem aliança às arbitrariedades presentes em contos que tratam de temáticas como a reificação do ser humano, o consumismo desenfreado e formas de censura e autoritarismo. Como mímese da sociedade moderna, Rubião escreve críticas sociais de modo incansável e norteado por uma constante reescritura das narrativas, tendo sua obra reunida em 33 contos. Para a análise, apresentamos uma crítica integrativa entre literatura e sociedade, respaldada na análise de gênero e discurso fantástico nas narrativas selecionadas. Para tanto, temos o suporte teórico de Chiampi (2008), Paes (1985) e Todorov (1992) para a reflexão sobre gênero e García e Batalha (2012) para a discussão sobre discurso. Aliado a essas noções, propomos a integração crítica ao pensamento acerca da assimilação mercadológica sofrida pelo indivíduo na modernidade (BENJAMIN, 1975; BERMAN, 2007; DEBORD, 1997). Em síntese, temos como maior interesse a verificação do uso intencional dos procedimentos fantásticos para a denúncia de cenas e práticas autoritárias na realidade social.