“É RUIM QUE SENTENÇAS COM É RUIM QUE NÃO PODEM SER CLIVADAS!”:
uma análise da expressão ‘é ruim que’ no Português Brasileiro
Sentenças clivadas; estruturas especificacionais; "é ruim que"
Considerando que a teoria gerativa divide as sentenças copulares em dois tipos distintos de estruturas – as sentenças copulares comuns (SCC) e as sentenças clivadas (SC) –, e que as interpretações semânticas entre elas se dão conforme a realização sintática e prosódica dos seus constituintes, especialmente aquele que ocupa a posição SpecCP, destinada ao foco da sentença, este trabalho tem como propósito analisar uma estrutura bastante recorrente na oralidade do português brasileiro (PB): as construções introduzidas por é ruim que. Conforme a gramática gerativa – em especial, os preceitos da teoria X-barra – há dois modos de um constituinte aparecer na sentença: por meio da concatenação ou por meio de movimento. Sendo uma sentença copular, quando o constituinte é inserido em SpecCP por meio da concatenação, dizemos que a estrutura é uma SCC; quando SpecCP é preenchido por um constituinte movido, dizemos que a estrutura é SC e, neste caso, aparece um vestígio na posição in-situ, que pode ser representado por uma categoria vazia (ec) ou por um pronome-Q. Diante desses preceitos, defenderemos ao longo do nosso trabalho que as sentenças encabeçadas por é ruim que, cuja configuração estrutural parece se realizar com SER + FOCO + QUE + IP, podem ter duas leituras distintas: uma predicacional (PRED), na qual o constituinte ruim aparece associado à cópula – ser –, para com ela inserir predicação ampla sobre a oração que aparecerá encaixada; e outra especificacional (ESP), em que esse constituinte presente em SpecCP, depois de ter passado pelo processo da movimentação, deixou na oração encaixada uma ec, possivelmente vestígio de um não que negava a estrutura original. Mostraremos que somente nas estruturas ESP, o ruim tem características próprias de foco, visto que ele tanto corresponde à informação não-pressuposta, como recebe destaque prosódico e tem vinculação específica com o seu vestígio. Se a estrutura com é ruim que tem leitura PRED, o ruim é parte integrante do par É + RUIM e predicador de uma small clause, cujo sujeito é a oração encaixada, iniciada pela conjunção integrante que. Nosso trabalho está fundamentado em autores como Quarezemin (2009), Resenes (2009), Kato & Ribeiro (2006), Lobo (2006), Mioto (2003), Modesto (2001) e Zanfeliz (2000), pesquisadores que dedicaram atenção à formação e construção das construções clivadas e focalização, tendo como base a perspectiva da corrente gerativa da linguística.